CARTAS PARA O MEU 2022!!!
Jaboatão dos Guararapes/PE, 26 e 27 de dezembro de 2022.
CARTAS PARA O MEU 2022!!!
Para começo de prosa, logo afirmo que o meu 2022, foi trabalhoso e sofrido. Meu coração chorou, acelerou e vibrou. Caro leitor, não queira pensar no seu 2022, se ele foi ruim. Se foi bom, há, peras, você vai lembrar-se de cada coisa que aconteceu.
No ano de 2022, tive que ter forças para seguir, mesmo sem acreditar na força que tenho. O futuro promissor pareceria esta distante. Para mim, caberia apenas correr atrás dele.
Se em 2021, naquela primavera conceituada como divisor de águas, escrevi para sair de mim. Logo, descobrir uma criança maltratada perdida que me prendia há mais de 20 anos. Quando dei conta, percebi que 2021, não havia terminado com a virada no dia 31 de dezembro. Com isso, o sofrimento permaneceu. Eu queria apenas uma explicação lógica para aquilo que sentia. Que dor profunda arrastada.
Em março, quando achei que estava melhor. Oh! Que nada. Percebi que ainda chorava como criança maltratada. Quando conversei com duas pessoas importantes para minha vida. Em abril, quando cheguei à terapia presencial, a única coisa que conseguia falar era sobre o passado. Oh! Que passado que não passou.
Mesmo passando por um estado mental difícil, não desisti de ir tentando. Entrei no (@coletivoescribas). Que presente antecipado maravilhoso. Fui bem recebida e acolhida. Nessas alturas estava contando o que estava escrevendo abertamente. Foi o primeiro espaço onde falei sobre a carta-manifesto e o meu segundo livro.
Chegou uma hora na terapia que senti o empurrão no muro. Parecia que a psicóloga me mandou andar. Eu, digo logo, estava toda quebrada com o impacto da derrubada do muro do silêncio referente à violência sexual sofrida na infância.
A psicóloga apenas disse:
— Maria, você precisar reagir! Cadê a Maria, da geografia? Cadê a Maria que corra atrás das coisas? Você é uma mulher adulta e precisa assumir as responsabilidades. Bora, reajamos!
Eu paralisei. Não tinha o que responder. Tem algumas sessões que você fica sem saber o que dizer mesmo. Faz parte do processo.
Na próxima sessão eu disse:
— Não sei o que fazer. Tá uma confusão as coisas na minha mente. Não sei o que priorizar? Fico sem condições de concretizar tanta coisa em simultâneo. Nunca fiz isso. Sempre tive hiperfoco numa coisa só.
Ela disse:
— Apenas faça aquilo que você consegue fazer hoje. Você é inteligente. O seu processo aqui é rico. Agora você precisa seguir de forma mais assertiva.
Se antes pensar no passado estava ruim com as culpas, medos, lamentações e demoras. Pensar no presente era assustador. Está no estado que me encontrava naquele momento era o que mais me assustava. Na minha mente, lá no meu inconsciente, via quase sempre tragédia. Pensar para reagir de forma mais assertiva era difícil demais.
Maio, junho e julho foram os piores meses de 2022. Não tinha escolha: eu apenas chorava, mas continuava fazendo o que tinha que fazer. Claro, dando prioridade em algumas coisas.
As chuvas que atingiram a Região Metropolitana de Recife, entre maio e julho, só me jogaram no poço. Que ficou mais profundo. O meu estado depressivo era alto. Isso ficava mais forte durante os sonhos — eu só sonhava com tragédia. Mesmo nessa situação fui fazendo o que discutia na terapia: o que era importante fazer naquelas condições.
Em junho/julho comecei a fazer o curso escritores publicados com a Lilian Cardoso; comecei a escrever para blogs; consegui finalizar a redação da pesquisa científica da especialização. Comecei a participar de concursos literários, de seleções para antologias e entre outros. No final do mês de julho fui tendo os primeiros resultados positivos.
Veio à primeira entrevista no mês de agosto sobre o meu segundo livro. Em setembro percebi que a narração da minha história deu uma virada. Além de começar a fazer o curso escritores admiráveis, que era um desejo desde fevereiro de 2022. Pela primeira vez comecei a perceber um equilíbrio mental, devido a várias situações que aconteceram. Consegui estabelecer daí por diante um alinhamento no meu todo. As boas escolhas foram trazendo os resultados e uma maturidade pra vida. Senti uma fluidez e eu estava presente e conscientemente em cada tijolo colocado na base da minha casa.
Quando fui para o Cariri Paraibano, a melhora foi maior, estava mais fortalecida e tudo que vivi ali e senti me fez desvendar algo muito mais profundo da minha personalidade. Será que estou no espectro do autismo? Levei para a terapia e fui debatendo até chegar debater questões mais delicadas no meu processo terapêutico e que pela primeira vez falei, fui acolhida e não julgada.
A única coisa que o psicólogo me falou que tudo (do meu processo) dependeria apenas de mim.
— Você é quem decide se vai fechar ou não os ciclos. Sempre tem uma saída, solução e nova forma de vê e sentir. Você pode ressignificar o que viveu. Nem todas as pessoas fecham ciclos da mesma forma e no mesmo tempo.
Quando ele me falou isso, senti de fato um acolhimento. Ninguém havia falado dessa forma sobre o assunto discutido, talvez nunca falei com tanta certeza e segurança sobre o que senti, sinto e sentirei. Aquele jeito de receber e apontar um caminho achei assertivo. Depois, em outra sessão, ele falou que meu processo é rico e de autoconhecimento profundo.
O que entendo do processo de surgimento do meu segundo livro?
Voltei ao passado, relacionei com o presente e elaborei projeções de futuro para aquela menina de 12 anos esmagada há 20 anos. Em nenhum momento imaginei no impacto que aquilo provocaria mais adiante. Eu apenas ponderava escrever, escrever e escrever. Quando finalizei o texto não aguentava mais emocionalmente carregar aquilo sozinha. Oh! Ninguém carregaria por mim o meu sofrimento. Quando chegamos à autoconsciência, é muito duro, percebi ser somente eu que poderia chegar lá.
O psicólogo numa terapia sempre está no segundo banco do carro, do nosso lado, mas a motorista sou eu. Quem conduz a vida? Ela/ele está ali apenas para apontar um caminho possível, que pode ser mais bem trilhado. Cabem a mim, seguir de forma mais assertiva e consciente.
Simplesmente passei a não escutar mais ninguém. Não digo que seja por maldade, mas por várias questões culturais, sociais e econômicas, as pessoas tendem a querer interferir na vida do outro sem viver nossas dores.
Precisei sentir o meu querer e coração. Com poucos meses logo em diante fui tendo os primeiros resultados. Quando decidimos seguir um caminho, muitas pedras aparecerão no caminho. Quem quiser me acompanhar está certo que será bem recebido. Para quem não acredita no meu processo e caminho que escolhi segui. Dido isso: tudo bem. Então, pega o beco. Pois, agora tenho certeza sobre o que quero.
A vida não dá certeza. Sei disso. Quem não tem medo do movimento da vida! Oh! Essa vida malvada, hoje levanta e amanhã derruba. É com essa reflexão que fecho a minha análise do meu 2022. Como uma pernambucana regionalista que sou. Trago essa reflexão do movimento dialético da vida inspirado na música, “Tempo 2 – Siba e a Fuloresta”.
Segue um trecho para pensamos o hoje e o amanhã:
[...]
Ninguém sabe o que será
do tempo futuramente
mas o tempo do presente
tudo tem e tudo dar
que o que tem no tempo está
em um caderno anotado
[...]
Ainda bem, sou escritora e uma grande apreciadora da arte.
Reflita sobre o seu 2022!
FELIZ 2023!!!
Autora: Maria José de Melo.