Carta ao Caranguejo, o feiticeiro da Lua
Caro Caranguejo que mora na minha lua,
Como um arqueiro que atira sem alvo e vai atrás da flecha, como um aventureiro que se joga no mundo sem olhar para trás, eu me expando no ritmo do devir. Mas, pergunto-lhe com muito respeito: como eu posso voar alto, além das nuvens e além do sol, se meu coração se sente em casa ao criar raízes? Como posso romper com a barreira do som, da luz e do vácuo se meu peito pede aconchego, afeto e o fortalecimento dos vínculos? Eu imploro por respostas, Caranguejo, pois, pereço em drama e exagero.
Como ponderar toda essa insânia? Porventura, és tu um feiticeiro? Poderias, tu, dar-me o poder da conexão emocional? Quando olho para dentro, na minha introspecção de Eremita que busca as respostas na própria sabedoria, vislumbro feixes de um breve entendimento. Encaro meus defeitos, que tu bem conheces. Retenção de emoções e a implosão de sentimentos. O ressentimento que me estraga o estômago, o passado remoído como um café que nunca fica pronto. Nem sempre é fácil focar no presente. Por que o passado precisa pesar tanto? Por que o fantasma dos momentos vividos, das palavras ditas e das lágrimas escorridas precisa ser tão nefasto? Como eu faço para fortalecer a minha casca? Como eu arrumo um exoesqueleto de quitina?
Por influencia tua, caranguejo, eu me nutro do meu próprio lar. Assim percorro os dias a procura do aconchego, mas, sejamos francos ao afirmar que é um grande desafio não transformar o vaivém das marés em gigantescas e furiosas ondas. É uma estada no submundo sulfuroso do meu inconsciente que me mostra os estragos jogados para de baixo do tapete. Meu coração crepita com o fogo exasperante, subproduto de uma consciência breve sobre os processos negligenciados e deixados para depois.
É sobre o amor, Caranguejo, esse fogo que me torra a paciência. Se eu amo, e passa e voa, por que amo? Tu me dizes com calma para que espere, pois, o que é meu está por vir, mas não pergunta o que eu quero. Responda, Caranguejo, és tu um feiticeiro poderoso amante da lua? Sabes do meu futuro ou apenas me indica caminhos?
Peço perdão por tantas perguntas, oh poderosa entidade do sentir, mas aprendi que para saber a resposta é preciso antes saber qual a pergunta. Estou reaprendendo a perguntar. Mande as respostas nos sonhos, nos dias, nos abraços, nos beijos e conexões emocionais. Peço que guie o meu caminhar pelo lado escuro da lua. Peço que se manifeste com cuidado.