Tiro

Tiro

Foi um tiro cego,

Disparado numa noite escura através de uma pequena janela.

Daquelas coisas que acontecem por acaso e mesmo assim não parecem.

O excesso de coisas incomuns assustam num primeiro momento,

A conversa dura mais do que o planejado, muito mais, e sua sombra ainda me assombra.

Invade meus sonhos mais profundos e me vejo acordando sem ar.

A culpa é sua por me tomar assim de assalto, me intoxicar e viciar, me fazer sentir sua falta.

Você se tornou inevitável, como se o seu perfume estivesse em meus lençóis, aqueles que você nunca se deitou.

E todos os dias me levanto pensando no que eu fiz para merecer isso, uma ausência que não faz sentido ouvir.

Um castelo erguido com cartas mal escritas e coisas velhas mal resolvidas,

Uma vida levada numa viagem não feita, um encontro postergado inúmeras vezes mas jamais dito em voz alta.

Eu sei o que se passa, quais as vezes que você quis desistir e hesitou.

Quantas chances e amores passaram?

‘Inda mais quando seus desejos se encontram além de todos que estão próximos.

Uma viagem de distância, um sonho não resolvido numa conversa já dita mesmo que entre-dentes.

Ninguém nunca assume nada, todo mundo já sabe disso, não finja mais.

A questão está além do “ser objetivo”, falta verdade para consigo mesma.

Falta coragem pra aceitar as mãos trêmulas que nunca pegaram em sua cintura, aquele beijo que pode ou não ter acontecido, ou quiçá, vai ainda acontecer.

Não se esconda por trás de uma imbecilidade inventada, comece a entender quem você é, não esconda mais suas cicatrizes, respire fundo, seja você, independente de quem merece ver.

Seja você sua fonte, ínicio e fim, lagoa ou oceano,

Aceite esta vida e a próxima, não fuja mais.

Não me deixe esperando após o tiro acertado. Uma, duas, três (para dar sorte) vezes atingido naquela janela escura, pequena e agora arrebentada.

Aceite as correntes que te seguram, a cruz que lhe prega e o fardo que carrega.

Entenda, que mesmo querido eu não sou mais o amado.

Não sou mais dor ou amor, me deixe indiferente ao seu ardor, mesmo que me doa.

Vou sofrer mas vou aceitar a derrota, fui vencido por aquilo que não tenho controle, não importa quanto amor eu tenha ou quanta paixão me alimenta. Não vou mais ansiar, desejar.

Quero me libertar, tanto quanto quero que você vá para seu canto viajar.

Me deixe e me esqueça, por mais que isso faça com que você desapareça,

Me arrebente com isso que você chama de mente, me faça te desejar em meu sofrer, me faça exasperar de prazer, mas nunca se esqueça, que tudo isso que você causou foi sem querer, e que novamente eu vou compreender.

Um texto, uma mensagem, uma foto pra recordar. Uma mania, um beijo, um abraço ou choro, tudo que fiz foi o necessário pra não te ver partir.

No meio de nossa vida incomum, mesmo que por um momento encontramos nosso porto seguro, independente do que eu disse ou visse, vista grossa eu fazia enquanto você sorria sem notar um olhar focado que com memória fotográfica eu salvava tudo.

Você foi um tiro cego na noite, um sorriso arrancado a força, um desejo tão grande que me fez mergulhar de cabeça, aceitando o que não me convinha, e eu tive medo.

E num passo só, numa frase solta, um sussurro dito eu me soltei, pulei, surtei.

Uma saudade de uma pequena janela fez com que eu falasse asneiras, me arrependendo de não ter segurado a língua, ao menos até onde o meu limite pudesse. O destino já estava marcado, era só questão de tempo.

Wanderlust em seus sonhos que aos poucos se tornaram meus, fui absorvido, tomado pelos seus pecados, aqueles que nunca tratou. Faltou esmero e empatia, compaixão e uma certa dose de anistia.

Mas no fim você nunca me aceitou, assim como eu nunca aceitei.

Uma janela de distância, um castelo marcado, uma carta velha, um Romeu e Julieta metafóricos no qual só o amor morreu (para mim não).

Tudo por causa de um tiro, duplamente atingido.

Numa janela pequena,

Do qual não resta nem sequer pena.

Minari
Enviado por Minari em 11/12/2022
Código do texto: T7669617
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