Desejos de uma memória

Fazem tempos que não venho aqui.

São memórias, meu passado, presente.

Do futuro nunca soube

Não sei se estou cansado,

Não sei se é solidão,

Não sei se é carência

Eu só sei que estou só. Entediado até as tampas.

A manhã é cinza, a tarde é escura, a noite limpa.

Procuro escrever por saudosismo de um tempo a muito passado.

Perdi o brilho e a minha chance de estar no holofote passou.

O papel não me encanta mais, a máquina está enferrujada, a tinta seca na fita velha.

O teclado ficou empoeirado, a tela cheia de cinzas dos meus cigarros asmáticos.

Me desculpem.

Pelo tempo perdido,

Pelas páginas amarelas,

Pelo sono esquecido,

Pelo amor falido.

Tentei sucesso naquilo que jamais me pertenceu, numa mensagem apagada mil vezes e escritas outras mil e nunca enviada.

É clichê, cheio de confete

A história é sempre a mesma

E escrever isso mais ainda.

Jamais serei o único a passar por isso.

Não busco por piedade ou compaixão, às vezes só queremos reclamar, poucas vezes nem sequer queremos ser ouvidos. Não estamos atrás de uma solução.

A caneta velha ainda funciona melhor do que eu, sabe falar, transcrever o que este velho quer dizer. Mesmo sendo fraco contra as minhas vontades, sucumbo a um desejo que me é primordial.

Devo e tenho de ser este ser, humano (sem o tradicional demasiado humano).

Nesse passo em falso, fraquejo enquanto a caneta escorre e discorre coisas do qual já se tornaram hábitos dos quais não deveria me orgulhar.

Revisito minhas velhas histórias, antigos amores, agora remotos.

Carrego a força que tenho na mão e machuco o papel, por quê?

O papel nunca fez nada, nem a caneta ou a tinta, meus dedos, nem minha mão.

Agora, o coração?

Este já é amargo, soturno, esquisito, imaturo.

Mimado por sonhos de outrora, jamais satisfeito. E assim ele assombra minha memória.

Toma minha consciência, assalta meus sonhos futuros e isso me entristece.

Quando a coisa aperta, fujo para as colinas procurando um pasto mais verde, não sou mais que um covarde.

Escrevo o que sinto, desejando em silêncio encontrar o que meus olhos procuram quando sei que não irei encontrar.

Desejos passados, sublimes, cobertos de sonhos impossíveis.

Um amor para recordar.

Assim um passado e presente se tornam uma fuga, donos de uma escrita fracassada, num lugar escondido nos meus meandros da memória, que um dia apenas quero esquecer.