Carta a Marilia.

Nessas noites de completa solidão, pensei muito em você. Lá fora o burburinho das águas do riacho, também chorava comigo ali bem pertinho; compadeciam com minhas dores de amor mau resolvido, bastava abrir a janela e deparar com as corredeiras incessantes, mas meu coração não era mais suas afluentes, só me restaram muitos desconfortos aqui nesse peito sofrido.

Andei por todos esses caminhos que existem nas minhas imaginações, não encontrei nem suas pegadas e qual foi a direção que você tomou, essa ponte transpôs você para o outro lado desse território, você deixou para trás o amor sincero.
Nessas superfícies hidrícas de largas margens, esse meu barco, outrora tinha um leme que navegava tranquilamente, hoje submergido de desamores e melancolias como um barquinho de papel a deriva, exposto ao vento.

Só eu sei o quanto essas suas atitudes me causaram tantos sofrimentos, o seu vestido de estampas coloridas em rosas floridas, suas sandálias de fixar entre meio os dedos, seu balançado em seu caminhar cantarolando em voz baixa imitando os bichos do mato ainda não sai de meus pensamentos.
Marília, caso queiras atravessar de volta essa  ponte, meu endereço ainda é aquele; lado direito desse peito,  meu coração continua o mesmo; cheio de amores para entregar para você.
Não choveu mais nesse nosso jardim, o ribeirão secou como meus olhos de tanto chorar pela sua falta.

Hoje não existe mais amores para regar nossas vidas.
As garças, réptil e os peixes desapareceram, as águas secaram restando um duro lajedo de pedras nesse antigo leito d’água, vivo em noites de profundo silêncio mas esperançoso de sua volta, certo que esse suplício chegará ao fim,   certeza a chuva cairá, nossos telhados cerâmicos recequidos receberão esse temporal de pingos espalhando umidade barulhando aquele musical de acalanto vibrando em cada telha que cobre esse nosso mundo de tantas estações e clima.   
  
 Minha querida Marília.