Marfim

Dentro do maior grito de todos, se encontra o silêncio de quem não se encontra.

O vazio eterno de uma mente sem lembranças, carregado de analogias e anseios,

Dos quais ninguém escuta, ou parece se importar.

O carrasco da mente vem, cabeça vazia, oficina do diabo diz o velho ditado.

Pensando mais do que deveria? Pode apostar.

Sou quem sempre fui e carregado de pesos, subo a escada da torre de marfim, que cada vez mais parece infinita.

Estou só num oceano que não tem fundo, não tem presença, não tem dor ou amor, me tornei lagoa.

Tudo é apenas vazio.

Mal escuto minha própria voz dentro da casa vazia, o quarto branco, limpo, com sol batendo.

Uma alegria que deveria vir, contudo, não vem.

Não há satisfação, `inda mais sentimento.

Não há você, não existe um eu.

Virei fardo e sou pesado.

Sou estatua, vazia e branca, olhos duros e secos, sem expressão alguma.

Gelado, sem pompa, bruto.

Pedra que não foi talhada em boa forma.

Escondido nos fundos de algum lugar quase esquecido,

Me abandonei, me perdi,

E não pretendo ser encontrado.

Já não mais,

Amor.

Minari
Enviado por Minari em 20/08/2021
Reeditado em 08/12/2022
Código do texto: T7325015
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