Parece que foi Ontem

Um Bilhete ao Tempo

Ainda me recordo, quando as pessoas, os vizinhos e os desconhecidos eram humanos e se cumprimentavam: "bom dia; boa tarde; boa noite! Que tenhas uma noite tranquila de sono reparador". Eram pessoas mansas, transparentes e ternas; e quanto tinham que esclarecer os fatos, não tecendo rodeios nos corredores da falsidade, íam direto à fonte.

Alguns deles, eram de poucas palavras e mais sorrisos; não sorrisos de boca escancarada, mostrando os ossos dentários de porcelana, mas sorrisos de coração e ao precisarmos deles, corriam para atender o necessitado.

Esses, não mediam esforços para serem generosos e úteis. Em certa madrugada, lembro uma vez que mamãe disparou tossir, pois tinha enfizema pulmonar e o meio de transporte de papai era o cavalo alazão que atendia pelo nome "Estrela", que pastava o sereno da madrugada nas morrarias, além estribarias, fui de galope a pé à casa de Seo Gentil - acho que tudo começa pelo nome - e pedi que a socorre em seu vagaroso e barulhento TL, motor dois tempos. Sei lá, acho que é isso: não entendo de mecânica, aliás, nada. O pouco que aprendi na escola da vida é ser rápido / rasteiro, ligeiro, pernas prá quê as tenho, quando o mando e a tarefa exigem rapidez.

Acordou assustado e ao notar minha presença, pois não era a primeira vez, acendeu a lamparina e jogou a chave do cadeado da porteira para que Eu a abrisse, facilitando a saída para a remoção de Mamãe.

Nota, esses pessoas são bençãos e como presenciamos tempos de maldições, o bem se sucumbiu ao mal. Não que sejamos todo mal, mas é que fazemos pouco ou nada, quando somos chamados a atuar contra algo; obviamente, algo que agride a maioria. E a separação entre os que se ocupam em fazer o bem, dos que observam de braços cruzados na zona de conforto e os extremistas do mal, que agora criaram os essenciais ou linha de frente.

Poderia ficar aqui, dobrado sobre a mesinha, horas e horas, dias e dias escrevendo tais obras do tempo, mas vou dar por encerrado, porque tudo que Eu escrever, uma vez que os tempos mudaram, para muitos será somente saudosismo. E saudosismo, é idoso ultrapassado perdido no tempo que não causa efeito positivo na modernidade.

A minha Mamãe faleceu muito antes de meus cabelos embranquecerem, das rugas apossarem da minha cara, das pelancas cairem corpo afora e infelizmente, tal fato está dentro da própria família. Diante de tudo isto, aprendi que o fruto pode cair no quintal do vizinho, mas o pé da árvore frutífera foi semeado ou plantado do outro lado da cerca limítrofe; que pode ser de arame farpado ou liso.

Nas cercas, o tipo e o espaçamendo entre as fiadas de arame impõem as dificuldades de acesso para ambos os lados, assim são os corações humanos; o que convenhamos, está diretamente ligado ao inconsciente coletivo, que por sua vez, depende da ocasião.

É o tempo impondo modelos, dogmas, procedimentos corretos até nas cercas que no passado demarcavam, apenas os pedacinhos de terra: de lá e de cá, dos quintais de vizinhos; mas antes de vizinhos, amigos!

Sabe, ouso dizer: família, obviamente, uma família formadora, responsável e com cada membro, autossustentável. Em devaneios e sonhos, tudo é possível.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 03/04/2021
Reeditado em 03/04/2021
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