Amigo, para quê te quero, amigo!

Eu quero uma casa no campo

Do tamanho ideal, pau a pique e sapê

Onde eu possa plantar meus amigos

Meus discos e livros e nada mais

Compositores: Jose Rodrigues Trindade / Luiz Otavio De Melo Carvalho

10-05-2020. Por ser uma data comemorativa e o brasileiro ser um povo alegre, festivo, carnavalesco, que adora futebol e comemorações em ajuntamento de pessoas, resolvi escrever uma missiva sobre a amizade. Comecei pensando como avaliar o que é abstrato; ou didaticamente: "coisas" sentidas, mas não palpáveis, como o vento minuano que sopra leve balançado folhagens de coqueiros , bailando as folhagens das copas das árvores atarracadas no sopé da montanha e da moça virgem, a saia rodada, assanhando.

Feito isso, segui pensando que se a amizade pode ser "exemplificada" pelo vento que deslizam por entre as folhas e folhagens, moças virgens assanhadas, então os praticantes de amizade deveriam ser fiéis, cuidadosos, tolerantes, recíprocos, compreensivos, atenciosos, empáticos e presentes, tanto no momento de alegria, quanto na dor.

Nota-se pois, que a amizade honesta, desprendida, sincera, vai além de simples amizade. Destarte, como estão praticando, se é que amizade pode ser praticada? Bem, como praticar o que é subjetivo? A resposta requer novas ponderações.

Com o avanço tecnológico, onde uma pessoa se apresenta à outra à distância, um aqui e o outro sabe-se lá onde, a amizade perdeu a magia transmitida pelo aperto de mão, pelo abraço, pelo diálogo e principalmente, pela entrevista olhos nos olhos; maneira mais eficaz de expor os sentimentos.

Analisando a amizade entre os membros de uma família qualquer atual, verifica-se que entre pai, mãe e filhos, também impera a amizade. Ademais, em alguns lares, a amizada é forjada pela frieza do vazio, o qual prevalece o distanciamento do ajuntamento. Exatamente: distanciar para ajuntar. Através dele, os membros são ajuntados debaixo do mesmo telhado pela família consanguínea, mas reunidos com as famílias tecnológicas em lugares jamais vistos.

Pai, mãe e filho, cada um ao seu modo, é amigo de amigos distantes, chamados amigos de lugares nenhum; mesmo por que, o virtualismo aparenta ser, mas não é um lugar que existe. E embora estejam lado a lado à mesa posta, a emoção e sentimentos das vistas e coração estão em outros territórios. São amigos de poucas palavras, mas com tempo de sobra para passear os olhos nas telas e correr os dedos nos teclados.

Mas há casos piores ou melhores, (aqui sim vale a subjetividade e depende da avaliação de cada um) em que os pais são totalmente submissos aos filhos; e sem negociação, a última palavra é deles. Também puderas, pois em qualquer ajuntamento entre seres de mesmas espécies, há um líder coordenador; e se é bom ou mau líder, depende da avaliação do grupo populacional.

Para esses pais, a amizade estabelecida entre os membros, não é vento que sopra uma brisa refrigeradora nas faces, mas tufão que açoita e causa estragos nas estruturas da família; e no correr do tempo, serão vistos, transferidos e praticados pela sociedade.

É Milton Nascimento, para você que disse que amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, digo que a amizade perdeu a subjetividade dos ventos, pois trocaram um refrigerado fim de tarde, regado com cheiro de café passado na hora, um naco de queijo meia-cura e a prosa sentida olhos nos olhos, pela tecnologia de uma tela fecundadora de homens com peitos vazios e ocos. O sangue da lealdade e respeito não corre mais nas veias; tornando os olhos brancos pela anemia pouca amigável.

A amizade sincera, pura e honesta, carece de gentileza, gerando a gentileza que aproxima emoção, coração e sentimento.

Entretanto, deve-se entender que os "tempos mudaram"; como é justificado pela maioria que se deixa levar pelo inconsciente coletivo.

Em razão do justificdo, a amizade praticada atualmente é semelhante à uma partida de futebol, vista e aplaudida de pé pela massa torcedora formada por opostos. E perante o que é material e palpável, a maioria esmagadora vence; em contrapartida, a minoria que aposta na subjetividade amigável, perde de goleada.

P.S.: não esqueço da copa 2014. Para os esquecidos, através do ajuntamento familiar proposto pela obrigatoriedade do distanciamento social, estamos reprisando-a. Todos os dias tombam uma montoeira de súditos; e pelo que parece, não sobrará nem o Rei.

Não diria os mais fortes, porque toda fortaleza é detonável, mas os amigos mais unidos, operosos, solidários e comprometidos com o "um por todos, todos por um" se sobressaem melhor em qualquer campo de batalha; não menos como sociedade. A sincera e honesta amizade está acima, muito acima da consanguineidade.

E mais alto que um milhão de amigos, como o vento, podem existir, mas nunca são vistos. Sobretudo, ser amigo para todas horas, para o que der e vier, o propositor tem que convencer-se que a amizade pura e nua é mais que convicção; é vocação.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 11/05/2020
Reeditado em 12/05/2020
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