Chegar cedo e ceder
Chegaste cedo e sem alardes, não estou desperta, apenas deserta.
É muito cedo, amor,
fuja, há tanto para viver antes de nos entregarmos,
estamos em plena aurora.
O eterno dura pouco, um segundo, um presságio, um passo, um desespero,
mas a eternidade é puramente o que você faz disso tudo o ser que és,
vá gozar de sua liberdade, vá viver sem deixar que te roube o coração, entregue-o a mim e lhes dê somente a carne, se assim preferir.
Vá, somos apenas vento, mas a juventude faz de tudo ventania,
em uma utopia que arde e queima, sorrateiramente apaga e aos poucos nos deixa as cinzas dos anos que se confundem entre vividos, vívidos ou sonhados,
é uma doença incurável e misteriosa, inconcebível para aqueles que nunca sofreram com as desordens que nos fazem crer na elegância do futuro e na sede do agora.
Cuidado com as armadilhas que o destino prega, amado meu.
Deixe o mundo te fragilizar para que só o tempo te endureça.
Amor, meu grande amor, depois que tiveres atravessado todas as veredas e conhecido os mais escuros caminhos, deságue em mim, busque seu remendo naquela que poderia ter te poupado tantas angústias,
quando pensares que já viveu tudo o que é reservado a um homem e que já viu todas as paisagens, paraísos e infernos, me procures, sabes onde me encontrar, já até esbarraste em mim um dia, em um dia cedo demais, por sinal.
Permita-me ser seu único amor, para isso, terei de ser a última e não posso ser a primeira, a vida é um sorriso arrebatador, uma surpresa em cada trôpega face, uma paixão quente em cada esquina e um amor fresco em cada olhar.