Fragmentos de Cartas
Escrito para o sedentário Papa:
Em certas circunstâncias, por exemplo, em início de inundações, com chuva implacácel e o nível da água subindo, subindo, 2 pernas móveis, sem varizes e andejas, bem humoradas e em bom estado, valem mais que Ferrari ou outro carro de luxo, último modelo.
Escrito para as pétalas florais, pássaros, aves, lua e estrelas:
Levada pelo brisa fresca minuana e saudada pelas folhages dos arbustos que oscilam feito pêndulo, para lá e para cá, a tarde vai ao encontro da noite solitária perdida no bréu soturno.
Escrito para os ganchos, folhas mortas, sonhos e garranchos:
A Vida deve ser como um rio. Como um rio que no trajeto, corri velozmente por ali, passa por aqui e esbarra no barranco acolá. Quando não, espraia em meandros. E ao conhecer novos recantos, com árvores de galhos narcisos dobrando sobre suas margens e canoas remadas por aventurosos pescadores, descortina novas paisagens.
Escrito para os historiadores que pregam história, mas nunca fizeram e jamais farão história:
Como descrever, pesquisar e teorizar as dores não sentidas no coração. Afinal, se acreditais que bonança vos chega nos lares após o dilúvio, a paz só reinará após a guerra. Está escrito nos anais da história mundial, através dos países desenvolvidos e o exemplo do Japão é o último recomendável, que foi preciso limpar, exirpar, abrir os olhos para a reconstrução coletiva e para recomeçar. É inútil e perda de energia remontar o que está em estado degenerado, podre.