Lembram-se de Jerônimo?
Sou gari. Passo os dias correndo atrás do caminhão de lixo. Inalando poluição. Gritando: "espere um pouco; mais devagar; pode tocar motorista". Enquanto as juntas de ossos não derreterem, é assim que ganho o "pão" que sustenta e enche os pandulhos de minha esposa, minha e dos meus catarrentos. Esse é o samba, o funk, o rock que ouço todos os dias nos meus tímpanos.
Lá em casa, todos são felizes ao me ver sair e chegar da jornada diária. É ver a camisa grossa alaranjada, abrem um sorriso espontâneo de felicidade.
Chega essa época, eu e meus amigos parecemos papagaios, gritando, gritando, berrando: Olha o natal do lixeiro. Olha o natal do lixeiro". Pode ser na favela, no condomínio de alto padrão, nas avenidas e ruas dos palacetes, lá estamos nós catando a merda ensacada dos moradores de casas e edificações que, enquanto nós gritamos, berramos: "olha o natal do lixeiro", elas ( as construções) dormem tão pesado, que o ruído do ronco vindo de dentro, abala, balança as estruturas das mesmas. Ficamos contentes por saber que as edificações são bem estruturadas; pois sobretudo, cada uma tem fundação e teto, ainda que de cristal, que merece.
Sem nos oferecer um copo de água, sequer, continuamos firmes e fortes, fazendo o que gostamos e pedimos a Deus, que é limpar a merda ensacada do povo; mas um dia a casa, a edificação, o palácio cai. Não há império que resista o tempo, aí cada um pagará pela bondade que dizia ser, mas que nunca fora; pelo menos com minha classe.
Bom natal e boas festas para todos os donos do planeta Terra. Se sobrar alguma merda das ceias que, fatalmente farás, por favor, guarde para nós; pois parecidos aves de rapina, somos e comemos as sobras de tudo.
Em tempo, quem nasceu para ser Jerônimo dígno catador de merda ensacada, não morri Johny engravatado, não!
P.S : estou para descobrir bicho mais hipócrita, farsante, safado, mentiroso que a espécie gente. Supera e muito, até a classe dos roedores.