Carta a Uma Projeção
Mogi das Cruzes, SP - 09 de julho de 2019.
Com amor, a D. S.
Fiz de você uma droga ou uma bala para adoçar meus dias amargos.
Nossa breve troca de palavras foi como teatro de sombras a entreter uma criança num dia de chuva.
O que houve entre nós? Não o sei... Uma ilusão, uma fuga?
Quem se iludiu? Quem fugia? Se fugia, de quê?
Não mais importa. Não encontrei uma definição dentro dos padrões aceitáveis...
O que senti e vivi em mim, isso foi real. Real o suficiente ao menos, para mobilizar todo um Ser-Mulher que estava abandonado... e por isso valeu cada palavra, cada ousadia, cada desejo, mesmo que não correspondido.
Por isso sou grata, e guardo uma esperança estranha, apesar da desilusão: a vida florescerá novamente neste campo. E será nova e verdadeira.
Mas...
Por quanto tempo continuarei amando a tua sombra projetada na parede dos meus devaneios?
Não o sei. Só sei que neste momento agarro-me a ela como uma âncora que dá segurança a um barco.
Agarro-me a uma projeção, pois a realidade parece dura demais - e você não faz ideia do quanto.
Se soltá-la, aonde vou parar? Se soltá-la, onde irei me apoiar?
Percebo em você um espelho meu, de coisas que aprecio, coisas as quais não tenho com quem compartilhar a não ser eu mesma, como se você fosse um outro eu... Será que te inventei enquanto me buscava?
Não! Você existe de fato e isto me dá uma alegria... que perde todo o sentido quando me dou conta de que não viverei com você nem mais um momento e nem terei mais as trocas das ousadas palavras...
Então, amor, o que farei de você em mim agora? Que significado você terá em mim amanhã?
Será que a vida ou o tempo dirá?
Enquanto isso, amor, sigo amando e sonhando a tua projeção.