Adeus, mundo.
Meu grande amor,
por favor, peço que, amigavelmente, lembre-se do tempo em que eu estive por entre as gentes.
E, carinhosamente, perdoe-me por não ter sido forte o bastante por nós.
Mas, que, encarecidamente, me mate em você, como eu também farei por aqui em pouco tempo.
Agora, já com a corda no pescoço, sinto-me desfilar como quem desfila para esbanjar um colar de luxo para um palco sem plateias. Tem pérolas de sangue e corrente de fio de vida. O colar que, agora, com muito medo em mim, eu farei ter seu fecho.
A cadeira no pé da porta de uma parede sem portas já está posta. Um pé em cima, como quem sabe o que faz. O outro no chão, como quem ainda teme, mesmo que um pouco, a morte.
O que mais me espera senão isso? Senão acabar com a dor? Tenho vivido a morte todos os dias. Melhor seria morrer a vida, meu amor.
Não te preocupes. Tampouco te culpes. Mesmo que tu não tenhas sabido amar, você foi a piscadela de brilho mais puro neste eterno breu que sou.
A coragem levanta meu segundo pé. Agora falta pouco. E, lentamente, o fecho vai me apertando, enfim. Não soou à solução, ainda. Mas a visão já começa a enturvar. O peito - que por matéria é só caixa de ossos, mas que por metafísicas é cofre de saudade - começa, então, a aliviar-se.
Ela chegou para mim. Eu mesmo quem fui buscá-la. Abri-lhe a porta, convidei-a para jantar. Hoje, deu-me a mão. Hoje, levou-me a vida.