Carta de renúncia - Academia Assuense de Letras
Natal, 07 de março de 2018,
Prezado Senhor Presidente da Academia Assuense de Letras,
É com pesar que lhe envio esta mensagem de solicitação de desligamento da Academia Assuense de Letras após completado 01 (um) ano de minha posse na cadeira de nº 08 (oito), a qual tem como patrono o inesquecível pároco Joaquim Alfredo Vespúcio Simonetti. Conforme rezam o Regimento Interno (art. 28, II) e o Estatuto Social da Academia Assuense de Letras (art. 13, § 2º), o acadêmico, cuja conduta não esteja mais de acordo com o que é exigido por tais dispositivos, pode, por iniciativa própria, abdicar de seu título enquanto sócio permanente, requerendo um afastamento definitivo, obrigando-se, desde então, a declinar de todos os seus direitos e deveres antes assegurados. Assim o faço. Antes aqui exponho as causas, como também as consequências de tamanha decisão.
Vossa Senhoria sabe que, a princípio, manifestei total interesse em colaborar com o que estivesse ao meu alcance e com o que fosse de interesse meu e da própria entidade, seja com ideias, seja com ações. Infelizmente, as primeiras até criaram algumas raízes; já as segundas não puderam se concretizar. E não puderam mesmo em detrimento de uma escolha muito objetiva, mas muitíssimo necessária, num mundo como o nosso, capitalista: o meu emprego. Na condição de servidor público federal, minha relação com a Administração Pública, na modalidade estatutária, é unilateral. Ou seja: o que o Poder Público determinar, a minha pessoa deve acatar, sem qualquer tipo de acordo. Sobretudo, em especial, no órgão em que exerço meu ofício, nos últimos tempos, alvo de muitas reformas que atingiram a carga horária docente, saltando esta de um regime de, no mínimo, 26 (vinte e seis) horas-aula para um regime de, no mínimo, 53 (cinquenta e três) horas-aula. Em outras palavras, precisarei dedicar-me mais as minhas funções. É como funciona a progressão funcional.
É claro que, entrando na Academia, tinha a plena consciência de que precisaria conciliar os meus deveres enquanto servidor público com a minha vida pessoal. Tentei agregar proporcionalmente o que eu fazia por obrigação e o que fazia por prazer. Mas a verdade é que o céu era o limite. Aos poucos, não intencionalmente, acabei deixando em segundo plano os meus deveres para com Vossa Senhoria, para com os demais acadêmicos e para com o povo assuense. Uma terrível incoerência com o que eu havia prometido cumprir com o meu discurso de posse! Vossa Senhoria deve se lembrar.
Por incrível que pareça, eu defino a minha postura, não como inconsequente, mas como imatura. Logo eu que estou prestes a completar, neste ano em vigor, 37 (trinta e sete) anos! Incoerente e inadmissível! Exatamente como, outrossim, o foram as tentativas de justificar as minhas ausências às suas convocatórias públicas. Supérfluas. Tudo, na verdade, estava fugindo ao meu controle, uma vez que eu não estava mais me dando conta da fragilidade das minhas estratégias para conciliar os compromissos institucionais com os desta Associação. Longe de mim brincar com assuntos tão sérios! Longe de mim continuar aqui na tentativa de descobrir culpados, porque eles não existem. Os dois lados tiveram as suas razões perfeitamente compreensíveis. O único culpado, talvez, tenha sido o destino. Este te leva para onde ele quiser; não para onde tu quiseres. O tempo foi passando, e eu não me dei conta de que os meus planos haviam me conduzido a outro caminho. É a sina de todos nós. Inevitável. O desfecho acabou sendo outro.
Não guardo mágoas em meu coração como antigamente. Guardo lições. Isso para Vossa Senhoria é louvável, e eu compreendo perfeitamente, porque, de fato, o é. Sendo assim, prefiro acreditar que para o povo assuense (o segundo povo a me acolher nos primeiros anos de vida) não haverá mácula que manche a minha história. As falhas que cometi não foram de grande proporção. Podem, quando muito, ter causado um certo desconforto a todos e a mim mesmo. Acontece muito, infelizmente, sem que percebamos. E quanto a tal desconforto, eu também venho até Vossa Senhoria e aos demais confrades me redimir. Nada mais humano, nada mais célebre.
Meus agradecimentos a Vossa Senhoria e a vós todos pela oportunidade dada, apesar de tudo. Estou certo de que os pouquíssimos instantes de convivência e de conflitos, marcados por saudáveis divergências, foram significativos para transformar a conduta de cada um de nós. Não me despeço de uma animosidade; despeço-me, na certeza, de uma amizade aqui plantada. E que esta possa dar bons frutos, que serão as diretrizes para o surgimento de uma mente cidadã, comprometida com o povo assuense e com a sua cultura, único legado que vós deixareis às futuras gerações. Tenham Vossa Senhoria e os demais colegas esta certeza: a minha saída pode ter imobilizado as vossas ações, entretanto, não os vossos sonhos. Estes não envelhecem. Avante, pois, com os trabalhos!
Atenciosamente,