Carta de um Ilustre desconhecido

Caríssimos, bom dia.

Não sou novo por essas cercanias, mas não poucos me tratam como a um desconhecido. Tenho minhas chatices e por não ser engessado, vivendo numa abrangência oceânica, posso ser anômalo, mas digerível; abundante, mas não excessivo; defectivo, mas não ininteligível; transitivo ou não, pronominal, reflexivo, ativo, passivo auxiliar a mim mesmo. Estou sempre a expressar e definir a dinâmica do raciocínio. Sem a minha existência não podeis ir a lugar algum, apesar de em algumas circunstâncias eu possa ficar oculto. Posso ser imperfeito, mas não errado. Posso definir aspectos meteorológicos, atividades e aspectos sentimentais. É verdade que para muitos sou como a Matemática: enrolado.

Como podeis ver, sou exigente, persigo a perfeição, não aceito ser jogado ao lado de qualquer sujeito sem a perfeita concordância, o que me acontece com muito mais contumácia que o que se possa imaginar. Exijo respeito porque eu sou a palavra.

Não homizio minhas dificuldades de entendimento. São muitas informações, por vezes atiradas como de uma metralhadora, entretanto, para quem é diligente e tendo o mínimo de perspicácia, saberá que mingau quente se come assoprando e pelas beiradas. Uma das grandes dificuldades se apresenta no Imperativo Afirmativo e ai o número de reprovação é assustador. É do bom convívio e obrigação de todos, o zelo pela língua que é a nossa maior identidade. Língua já tão adulterada, invadida, agredida por anglicismos não só desnecessário, como abusivos. Ainda assim, a escrita culta não pode se desgarrar da essência que a faz tão bela. Dizer que “a gente fomos”, “possa dará” ou que “você vais” é delito de tão má digestão a revirar nossas já tão debilitadas vísceras. Agressões que já ocasionou outra resposta esquisita: Disseram? Porém, não fomos eu! A gente não fomos para lugar algum e se você vais, por gentileza não me convide!

Cordialmente, vosso irredutível servo,

Verbo

PS.:

Muitos poderão fazer outra inquirição: como fica a Licença Poética? Ótimo. Não podemos trocar Papa Nicolau por Papanicolau. Esse é um capítulo à parte que deve ser entendido no seu contexto. “Nós tabaco na feira”, não é entendido como “Nóis fumo pra feira“, é uma expressão muito clara de em qual meio aconteceu.

Não perca na sequência, neste mesmo horário, frequência e batcanal, mais um capítulo da série: Filosofia de Botequim.

Um Piauiense Armengador de Versos
Enviado por Um Piauiense Armengador de Versos em 21/02/2018
Reeditado em 24/02/2018
Código do texto: T6259862
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