um conto apocaliptico.
do livro “Reflexão em forma de oração” (Irineu Xavier Cotrim)
É o que pensei, numa manhã caminhando na mata queimada com venenos:
Vem cá, dizia o sapo para a cobra, mas quando a cobra resolve tomar uma posição o sapo dá no pé.
Mais adiante, após ter fugido da fome da cobra, acaba morta não de cansaço, mas do veneno, jogado no canavial e descarregado na biodiversidade do seu lindo lago de amor e dor. E, sem sapos e sem grilos, como vamos ouvir aquela sinfonia noturna?
Meu bem, qualquer instante que eu fico sem você, eu imagino o apocalipse chegando perto de nós. Se você está ao meu lado, esqueço até de mim e do que será, e nem penso em fatalidades do que virá, Já nem lembro o bom gosto de alimentos produzidos sem venenos.
Eu gosto dos que tem fome e morrem de vontade e se cercam de desejos de justiça. E, buscam o equilíbrio, protegem o ecossistema e não enganam o povo com falso favor.
Você aqui? Perguntou o cavalo para a cabra: Como tem passado?
-Passado bem mal, a coisa tá feia, é muita doença nos rebanhos dizem até que é câncer, chamaram o veterinário, mas, qual o que; alegam gripe bovina, gripe suína, gripe isso e aquilo, mas na verdade é o resultado das mudanças de comportamento, o nosso alimento é ração industrializada com gosto bom, mas com químicas más, são os novos tempos; é o Deus lucro tomando conta de tudo e de todos, é muita ração transgênica para comer e muitos agrotóxicos no pasto. E as vacas, além de tantos transgênicos que comem, ainda, quando nascem seus filhos são desmamadas no primeiro dia, para que os seus donos aproveitem tudo, sugando até a última gota do leite roubado de seus filhotes. Se humanos pudessem ser apenas humanos não fariam tantas maldades com nós, os bichos indefesos de consciência e desarmados de vontades!
– E o que é que eles, os bezerros mamam?
– Ah, estão fazendo como fazem com os próprios filhos: mamadeira com misturas preparadas.
– É serio? Ora, vamos dar uma voltinha no pasto?
– vamos sim.
E foram os dois e mais alguns que estavam por ali e nem esperaram serem convidados. Foram calmamente caminhar no campo nem tão verde.
A bicharada sobrevivente das inconsequências do ser racional desde antes, da sociedade capitalista e consumista. Hoje até os irracionais duvidam desta onipotência e poder. Estavam todos com ânsia de saber dos acontecimentos, queriam porque queriam informação, que não passa na televisão.
Com tantos seres juntos, não deu para perceber de quem partiu uma determinada afirmação, um tanto quanto estapafúrdio: “Você me destempera com seus temperos e com suas locuções incríveis, suas informações não sabem se é positiva ou negativa, porque quando fico sabendo da maldade humana tenho vontade de não saber de nada”.
Gostaria de poder experimentar, com um pouco mais de calma para saber se conseguiria ficar, sem participar, desta festa pobre que os homens armaram para eu falecer.
Se antes já tinha ódio humano imagina agora, então, gostaria de provocar uma revolução. Estão acabando com os pastos não encontro; nem cobras nem lagartos, nem aranhas que me arranha.
Estamos numa vida sem graça, uma desgraça.
– Calma, não é assim deste jeito. Aqui a indústria alimentícia não é tão poderosa ainda se encontra alguma harmonia!
Mas também como todos os lugares; “eles” quando querem carne animal preferem o boi macho.
–você diz quando querem vender a carne, mas quando querem comer, nas suas refeições uma mistura porque estão, sem, ou porque chegou algum parente, preferem os pequenos animais aqueles de galinheiro e como sempre a preferência são os franguinhos.
E quando os frangos veem chegar alguma visita, logo se põem, a conversar. E o mais velho diz:
– Hoje tem hóspede. O mais jovem diz: -E o que será de nós? O mais novo: Triste de mim! Mas, isto acontece, em alguns poucos lugares, entre os moradores do campo. Na maioria dos lares de todos os cantos e recantos do planeta terra e até mesmo, no campo já não se criam, frangos sem estas misturas, de rações industrializadas com hormônios, para o crescimento e engorda que se dá, de forma mais rápida para vender às indústrias alimentícias.
As indústrias vendem em todas as praças e cidades até no mais longínquo dos açougues você encontra os tais frangos de carne molinha de cozinhar... Aplicam-se cada vez mais anabolizantes, hormônios, etc. Em aves e suínos, com efeito perverso na saúde dos humanos.
–Não há algum estudo provando que trazem doenças. E também não há nenhum estudo provando que não trazem. Depois que alguns leram o livro: “o mundo segundo a Monsanto” os que leram dizem que é tudo cancerígeno. Não só os agrotóxicos, como também os herbicidas e os transgênicos.
– Sério?
E como vão fazer a oração antes das refeições, se as refeições estão contaminadas?
Uma sociedade de ateus e anarquistas pode ser mais ética que uma religiosa e centralizada nas leis. Há muito individualismo, e pouca solidariedade entre as pessoas, o que causa na cabeça dos animais certa confusão entre, o que é certo ou errado. O bezerro desmamado chora o leite roubado.
Eu choro: a falta de compostura, a falta de consciência, e a falta de ética.
Não quero ser um lôbrego destes meus desejos insanos.
O cavalo tem algumas expectativas: – será que a cabra, sairia para a festa de final de ano, com os demais animais, para comemorar com a bicharada o natal aviltado pelos humanos?
Antes que passamos a ser um simples objeto de lucro em alguma festa pagã.
Nada mais interessante; imaginar os burros ensinando a outros burros.
A incompetência é a marca dos incautos nestes tempos neoliberal.
A alegria é a melhor companheira da emoção, na caminhada da vida são muitas as chegadas, e muitas as partidas.
Nada do que foi será. O que se faz de muito bom, é muito uma vez, na repetição será apenas bom.
Os homens e os bichos carregam em suas vidas o instinto da sobrevivência e um animal não mata seu semelhante já o bicho homem mata de raiva, de fome e agora de envenenamento.
Por que os humanos não fazem a reforma agrária para tentar evitar a monocultura e quem sabe assim fugir do controle das multinacionais que manda e desmanda.