Carta do passado, endereçada a mim mesmo.

Outra vez a fumaça de cigarro me pega, e volto a pensar em tudo o que eu fiz.

Cada vez mais ando arrastando os chinelos do que parece ser uma velhice precoce. Mas não tenho certeza se é isso mesmo ou só meu mau humor.

Sento em frente a um computador com um maço, um isqueiro que falha vez sim, vez não, e uma cerveja que se eu não tomar logo, vai acabar esquentando.

Converso, converso e converso com pessoas que acreditam me conhecer, pensam que sou o mais puro anjo na terra. Mal sabem elas dos problemas que eu tenho, da vida bagunçada e cheia de vai e vem. Muito menos imaginam a transitoriedade de pessoas que tem nela, vem e vão como um metrô maldito cheio de rostos que passam por você enquanto você luta a cotoveladas para entrar num vagão que jamais estará vazio.

Estou sentado, sozinho, passando frio e com as mãos geladas, não posso nem me coçar sem arrepiar de frio. Isso complica minha vida. Mas ao menos ainda tenho o cigarro pra me esquentar os pulmões falhos pela asma.

Deixo que falem, batem palmas para mim enquanto falo coisas que parecem ser eloquentes, mas grande parte é cena pois estou apenas carente de um pouco de atenção, talvez carente de um pouco de carinho ou um abraço apenas nessa noite. Tento respirar fundo, relaxar, mas está difícil, complicado pra uma cabeça de vento como a minha.

Faço dramas, falo coisas que parecem mentiras ou sem sentido, talvez finja ate um mal humor pra um, e um bom humor a outro, finjo ser popular, finjo ser sozinho, cada um tem a parte que merece, cada um recebe o amor que merece receber.

Acho que essa ultima frase vi num filme, mas quem se importa?

Escuto musicas tristes pra curar uma fossa que já deveria ter passado, e acredito que meus erros vão embora conforme a musica toca, mas não acontece.

A solidão bateu em cheio nos últimos dias, mas sobrevivo, como sempre ressurgi depois de um tempo assim.

E eu vou me sentindo vazio como meu maço de cigarros, voltei a fumar um maço por dia, aqueles que soltam fumaças cinzas, quando pseudo-escritores dizem que é azul. Tolos.

Digo que vou fugir, sair, e começar outra vida, pedem pra eu esquecer dessa ideia, mas me parece tão atraente.

Fingir que morri e começar do zero.

Começar em outra cidade, outro estado, outro país. Outra vida, trocar de nome e virar outra pessoa, com novos gostos ou até manter os velhos.

Levar comigo raras coisas, ao menos aquilo que me é raro. Correr dessa vida vadia, ressurgir como fênix das cinzas dos meus cigarros apagados.

Acorda, isso não vai acontecer, não enquanto sou o pobre que sou.

João querido, quando vai criar coragem e crescer?...

Minari
Enviado por Minari em 18/11/2014
Código do texto: T5039247
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