Para aquele que não me corresponde
Procuro você. Por que em vão? Só me sopra! Pare. Pare com os ventos, pare de me enviar desconfianças, que é injusto e nada mais, querido.
Escrevo agora em mais uma tentativa de aproximação e quem sabe de um simples diálogo, sem este verbo perturbar seco que me preenche a todo instante do silêncio em nós.
Você não fala, logo, o que imaginar? Um dia, estando eu em silêncio, você me disse! Sussurrou, até gritou por longos minutos. Agora nem sussurra, nem grita, nem parece respirar. Você se perdeu? Não é mais capaz de ver? Nem de falar, pois! É mudo.
Sentimento, pode ser estranho, mas depois da sua desfeita eu nem consigo proferir o seu nome. Não da mesma maneira. Quando tento, ele sai lisado, como quando um professor representa a separação de sílabas aos semi-alfabetizados. Talvez mais oscilante.
Não me entenda mal, eu juro que não culpo você. Não só você. Mas por que você insiste em se calar, enquanto eu perco a bússola? É instintivo me deixar confusa? Antes fosse somente confusão o que me deixa! Sinto as suas partes me fazendo cócegas, enquanto a mais forte delas me pressiona nos troncos da insegurança. Por incrível que pareça, pregada lá, sem nada seu, eu me sinto mais segura.
Por que não me estende novamente as mãos inteiras? Por que não me torna um pouco mais íntegra ao lado seu? Chega de condenações. O que passou, passou, estou ciente. Mas há de ter ficado alguma coisa! Pior que sofrer é não se recuperar. Claro que em pessoalidade a vida e você adoram algumas medidas de sofrimento...
O que quer fazer a partir de hoje? Se esconder eternamente de mim? Eu vejo você, mas não vejo. Eu sinto você, mas de outro jeito... Com medo, como se estivesse no chão trêmulo. Queria voar de novo e me sentir segura no alto, palpável no alto, olhando tudo como se tudo não me abalasse tanto assim. Sinto, por vezes, que tentar escalar suas montanhas é mais difícil que me fechar em um cubo de quinze centímetros.
Está certo que eu me perdi por uns tempos, porque a angústia - que possui várias formas - se revelou como um tumor dentro de mim. Eu tenho as minhas explicações! Você também não aceita ouvi-las? Ao menos isso, sim.
Eu me lembro dos nossos momentos de expectativa, de batalha, de guerra, de bloqueio. Me lembro de quando você resolveu desatar um laço de nós por motivos próprios. A dor em mim não foi tão grande quanto a dor em você. E eu sei, porque presenciei suas lágrimas ácidas corroerem o próprio corpo. Pode ser que por isso ficou tão fragmentado.
Agora peço novamente, a fim de lembrá-lo que apesar dos pesares, ainda nos encontramos em todos os dias. Nos observamos de longe, sem tentar notar um ao outro - que farsante!
Pense bem, não é porque duas pessoas não se encontram mais juntas na sua união, que você não estará mais na vida de cada uma delas. Entenda!
Desde o início não é só tempo e sim recuperação. O tempo não recupera nada nosso! Ele apenas serve para passar, para ser tempo. Eu já sei que se me disser algo agora, será algo como "Espere mais!". Eu espero, mas não o tempo. Eu sem você posso me recuperar, mas sem você não posso nos envolver.
Não posso muito bem proferir, mas sei que consigo escrever o seu nome embora não queira, instável sentir. Não precisa me escrever sem voz, só me sussurre e estarei mais tranquila. Abraços à racionalidade, sua irmã longínqua que me prova que sabe zelar o seu íntimo.
Se optar mais uma vez por me assistir sem a bússola, perdida, confusa e se acomodar em tua aflição de rigidez, vou deixar que o tempo passe mais a você que para mim. Sou pessoa, não sentimento. Envelheço e viro pó, enquanto você pode ir e voltar quantas vezes quiser. Vá e volte quantas vezes quiser que eu tenho outras coisas para sentir além de você.
Quando voltar, mesmo não sabendo como estarei, estarei na sua demora.
Sempre eu, você sabe.