À hipocrisia
Suprema governadora deste mundo,
Perdoe-me por mera carta aberta, que a ti permanecerá oculta, a sete chaves, em teu exímio de produção.
Pois é por verdade que escrevo sem puras intenções, que realmente sabes, embora teus ares ardam em tons de insolência - aos olhos de nós, meros filhos de um povo dependente.
Como a mãe e dádiva que és, podes tu apenas responder-me o motivo do julgamento das lágrimas?
Porque, minha caríssima, as lágrimas quando caem não ferem, apenas descem em suas planícies, sem sussurro, sem sopro, sem opressão, lavando e desentupindo poros.
Não posso entender - mais um perdão! - o que devo investir à proporção que sinto este acúmulo tentar sair, com tantas vozes embriagando-se em suspiros, desdém, em nome de uma sobriedade que eu realmente desconheço!
Mas então, sábia e excelente, se pregas uma mesa sempre cheia de uvas roxas, que na realidade são verdes, por que não pregar maçãs-verdes em um banquete de peras amarelas?
Tu me dirás, em teu aposento cercado de mentes pseudo-impotentes, que isto não terá tanta relevância e ouso responder que sim.
Vejas bem, prezada, que este mundo nunca será estéril de pensamentos recém-nascidos e que, portanto, lágrimas jovens cairão sobre as velhas durante quaisquer faixas de controle externo.
Por mais que grites que não, sim, elas estarão derrapando em faces e sorrisos, em gotículas entredentes, exuberantemente em tuas abundâncias e conteúdos.
É que chorar não é tão diferente de rir e coçar frieiras. As emoções necessitam estabilizar-se, sem total sódio e sacarose, evitando uma astuciosa explosão. Ah, que contraditória essência, mãe do mundo!
Mas tu sabes... Podes negar-me, agora, mas sabes... Que lágrimas são isotônicas.