Pinheiro Marcado, 28 de fevereiro de 1979.
 
À Meritíssima juíza da VII vara crime desta comarca.
 
Permita-me Meritíssima juíza Cristina Magalhães, em nome da amizade que vivemos na infância, te chamar de Cris.
Eram assim que eu te chamava quando juntos corríamos nos campos e brincávamos nas águas, ainda cristalinas do rio.  Pra você, eu lembro bem, eu era o pequeno Ilo.
Acho que eu era meio teu herói. Crescemos num tempo em que não havia estes brinquedos eletrônicos e, isolados naquele fundão, nos tornamos tão próximo.
Você dizia que se os pais deixassem iria casar comigo. Você queria ter uma menina. Até o nome já estava escolhido. Maria Luísa. A nossa Malu.
Eu também tinha meus sonhos. Eu também queria este casamento. Imagina! Duas crianças totalmente inocentes.
Há pouco tempo encontrei um retratinho em que estávamos eu e tu brincando na estrada de terra. Tu com aquele vestidinho que te envaidecia, mas que em poucos minutos estava totalmente sujo. Eu só de calção. Nem sei que cor era. Não lembro e, a foto, evidentemente é em preto e branco.
Pra falar a verdade doutora nem parece que somos nós.
Olha Meritíssima juíza crescer significou me afastar de você. Não quer dizer que eu te esqueci. Eu continuei na minha simplicidade interiorana não tive a mesma sorte da senhora.
Se o destino nos coloca hoje frente a frente não é por acaso. Hoje estou nas tuas mãos como nas minhas estiveste lá na infância quando te socorri das correntezas em que te afogavas.
Peço-te que me sentencie conforme tua vontade e a lei, mas leve em conta que agredi a ele por te amar desde a tenra idade.
Teu sempre admirador,
Murilo Sá. (teu Ilo)

 
Moacir Luís Araldi
Enviado por Moacir Luís Araldi em 11/09/2013
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