J.
Eu sou fumante. Não sabe o quanto receio que isso te afaste de mim. Perdão, devo me corrigir: Não sabe o quanto receio que isso não te permita deixar-me aproximar de ti. Mas, por mais incrível que possa parecer, não tenho crises que me faltem o ar. Lá vou eu me corrigir novamente: eu não tinha falta de ar. Isso pode, e vai, soar muito clichê, até ultrapassado, porém é seu direito saber que nunca um sorriso me arrancou o fôlego como o teu. Sinceramente, todo meu sentimento começou com seu riso, se ainda se resume a ele é uma incógnita até para mim. Eu fui a última pessoa a notar sua presença, quando notei peguei em flagra o teu sorriso. E era somente isso, um sorriso; e continua sendo um sorriso, morrerá sendo um sorriso, mas eu me apaixonei por ele. É isso, acho que estou apenas apaixonada pelo teu encantador sorriso, por você? Creio que não.
Como vou te contar que, ainda que seja um tanto quanto cedo, sua distância aperta o coração? Aperta! Essa é uma promessa que lhe faço: quando eu souber se a sua voz faz meu coração parar ou disparar eu te esclareço. A grande questão é: você não tem como saber de nenhuma palavra que aqui escrevo, é realmente difícil de crer que tudo tenha acontecido da forma mais ingênua e idiota possível, tão fútil que me falta expressões para falar além de seu sorriso.
A verdade é que tudo, independente do que seja “tudo” de fato, estará obsoleto em poucos meses, é o que se espera de algo tão surreal quanto “eu e você”. “Surreal” talvez não fosse a palavra certa, “irracional” sim. Cedo ou tarde as coisas voltam ao normal. Enquanto isso você me desconcentra nas provas, enquanto isso você desaparece nos meus momentos de coragem, enquanto isso eu ouço sua voz algumas cadeiras atrás da minha e eu procuro desviar o olhar pra não forçar despertar desejos que não existem. Eu espero que venha me pedir um gole do meu café, ou tirar a dúvida mais besta de uma criança e principalmente espero que não cite nunca mais o meu nome entre os ventos, pois não sabe quando chegam aos meus ouvidos não consigo reter o impulso de ir a ti, seja lá para o que for. Em dois passos chego próxima a ti, e cara a cara engulo o instinto e a vontade de sussurrar “vem ser minha”, mas dizer algo tão grandiloquente assim é errado, não por ser grandiloquente, e sim por eu não ter motivos o bastante para querer te trazer pra mim.
Tudo isso ficará escondido, quem sabe na esperança de que seja esquecido. É um segredo que guardo dentro de meus olhos para que, se olhar direito para eles, talvez possa descobrir essas mesmas palavras.