Fútil
Em um momento como esse que estou passando, penso que muita gente diria algo do tipo “Sinto um grande vazio, embora não haja mais espaço” ou “Queria valorizar tudo o que tenho, mas mesmo com tudo isso, sinto como se me faltasse muito”. Tenho total consciência para afirmar que eu realmente não tenho nada, porque a gente sabe reconhecer quando tem, mas não é suficiente, não é meu caso. Passo a maior parte do tempo sozinho, não que eu me incomode, mas claro que seria legal se alguém realmente me quisesse por perto, mas estar sozinho tem seu valor, é bom pra clarear as idéias, pensar sobre tudo e muitas vezes chegar a conclusões que você não queria chegar. A parte ruim mesmo é não ter com que contar, talvez se eu procurar bem até encontre, mas não consigo me sentir confortável para falar de algo tão desinteressante que é o que eu sinto para qualquer pessoa.
Estive pensando comigo aqui agora como eu queria que alguém, quem quer que seja, percebesse o quanto preciso de um colo, de braços e abraços, sem que precisasse dizer nada. Bom, mas talvez eu estar triste é tão rotineiro, que minha ausência de felicidade já se tornou algo tão comum, que essa minha falta de sorrisos é, de fato, o meu normal. Talvez, quem sabe, seja até o meu “bem”. Então eu devo mesmo parecer estar bem, no final das contas.
Só que eu não estou, estou sem absolutamente nada, nada para saciar essa minha dor. Sem cigarros, sem comprimidos, sem ninguém. Isso me irrita tanto, existem mais de sete bilhões de pessoas lá fora, todas lá fora, nenhuma aqui comigo, nem que só para se mostrar presente, mudo, mas presente. É melhor do que todos os ruídos dos ausentes que entram pela janela ou são emitidos pela TV ou nas várias freqüências de rádios possíveis.
Lembra quando eu disse que não tinha nada? Será que agora consegue compreender que não é apenas uma metáfora para solidão? Mas é isso querida, meu diário de sentimentos, devo estar te sobrecarregando com meus desabafos tão fúteis. Coisas sem solução são fúteis, não é? E coisas fúteis não têm nenhuma importância. É incrível o quanto eu consigo piorar minha vida em tão pouco tempo, voltei com meus maus hábitos, então me perdoe por esta carta chegar manchada do sangue que escorre pelo meu braço. É, a gente faz o que pode. Existe um preço para se manter vivo, acho que o meu é derramar sangue para isso. Eu não estou conseguindo mais me salvar.