Mantenha distância
Peço-lhe, não por mim, mas por ti, que não procure invadir meu coração, catar sentimentos que não quer que eu sinta e palavras que não quer que eu expresse. Eu posso contê-los, escondê-los, porém nunca guardarei a mim algo qualquer que seja que me faça mal. Entenda, não posso escolher não sentir e por isso preciso arranjar um jeito de suportá-los. Façamos um acordo, que só você tem a ganhar, mas eu topo, para o teu bem, para o nosso bem; não ouse tentar decifrar as histórias que guardo em meu íntimo, reais ou fantásticas, em ambas há, e sempre haverá, verdades. Todavia, não vejo porque tanto procura por palavras que não consegue entender, de assaz complicadas de serem traduzíveis.
Apenas pare de uma única vez de querer ler meu coração, é lá onde guardo todas as atrozes histórias que tanto te assombram. Aviso-lhe de antemão, para que não nos machuquemos. Eu entendo que não devo cuspir os versos de minhas lágrimas, entretanto, espero em troca que não vá buscá-las. Proíbo-te, você e a quem mais não for capaz de tentar entender, de conhecer minhas angústias, escritas em barroco, porém acessíveis. Acessíveis até demais por assim dizer. Então lhe peço, mais uma vez, mantenha distância das minhas dores que desconhece.