Sem espaço para um "P.S."

Desculpe-me por te deixar, mas entenda que não foi uma escolha minha, nunca pedi para deixar de me importar contigo. Detesto esses excessos, tanto o de querer demais quanto o de querer de menos, lembrando que não me refiro ao que você verdadeiramente sente, mas àquilo que você deixa transparecer. Tudo o que é demais é sobra, é excesso, faz mal. Todavia, você não deve exigir tanto de mim quando você não se esforça em busca de nada que nos salve. Agora é tarde, tarde demais para qualquer coisa, nem mais um ato, nem mais um sopro, sem linha alguma para um “PS”. Nenhuma possibilidade de reviver, porém não há mais nada que corra o risco de perder. Sinto por isso.

Sabe, eu me sinto bem, não nego, tão bem quanto não achei que fosse capaz de me sentir. Preste atenção, não lhe digo que tento ou que ainda irei te esquecer, aviso-lhe, para que não se engane, que já esqueci, sem querer, juro, juro de dedo mindinho, mas que me fez um bem danado, ah, isso com certeza fez.

Não há culpado, e se há, não existem suspeitos, nenhum dos lados. Mas, penso que se houvesse vestígio de sangue, estaria em minhas mãos, porque sou eu quem cansa de tudo o que se repete, tudo o que não me agrada, sou eu quem não consegue insistir no imutável, no que não se adéqua, no que não se aperfeiçoa.

Cansei de ti. Não queria que fosse tão fácil dizer isso em um fôlego só, sem gaguejar ou que soasse tão real. Acho que nada disso faz diferença alguma mesmo. O que estou tentando dizer é só que a culpa de tudo é nossa, não somente minha, nem tão pouco somente sua. Mas parece que agora ficaremos bem.