Morrendo

Estou morrendo, de sono. Ou assim prefiro acreditar. Entretanto não consigo dormir, não em minha cama fria, em meus lençóis secos e meu travesseiro molhado, o molhado dos cabelos de meus olhos, comumente chamado de cílios. Eu mal consigo respirar, a tristeza me tapa as narinas, meu nariz também molhado, molhado da tristeza que escorre, do contato com o travesseiro ou o intruso no caminho que as lágrimas percorrem dos olhos e pingam de meus cílios. Não consigo pregar o olho, mas acho que não estou com sono, acho que só estou morrendo mesmo, talvez por isso que não durmo, se eu fechasse meus olhos não dormiria, mas nunca mais acordaria. Mas tudo bem, a gente se acostuma, mas também desacostuma, só que eu já não sei mais se eu não me acostumei ou se já me desacostumei. Sei que dói, e como dói, não queria saber como doía, mas agora eu já sei e é por saber que eu escrevo, gasto minha caneta por não encontrar alguém capaz de me oferecer conforto. Como confortar logo a mim, o maior exemplo da voz reflexiva que a gramática pode encontrar? Eu faço e sofro com minhas próprias ações, como um suicídio, só que sem a morte, mas me refiro à morte biológica. Apenas não me sinto no direito de chorar, pois vítimas-algozes como eu não podem reclamar da dor, estou apenas pagando como vítima o que pequei como algoz. Porém, essas noites em claro não seriam um preço tão alto, mas ela não é nada, comparado aos monólogos, meus e não-meus, que ecoam em minha dúvida diária.

Quando digo que estou bem, realmente estou, dito, bem. Esse é o meu "bem" já faz um tempo e essa foi só mais uma noite como outra qualquer, minhas noites de quase um mês inteiro; compremos uma velinha para o sofrimento sopra-la. Mas digo e repito quantas vezes forem necessárias: Sim, está tudo bem. Então eu sorrio. Entretanto quando eu confessar que não estou bem e me ouvir chorar, ai sim, de fato, tem-se um motivo para se preocupar. Acho que só preciso de um tempo para mim, mesmo... Sei la... Já passou da hora de eu estar disponível para mim, sem depreciações ou esperanças que não posso ter. Apenas eu, meus pensamentos, minha alma e meus sentimentos; mas se a felicidade quiser aparecer, será mais do que bem vinda, sinto falta dela.