UMA CARTA VAGABUNDA
Um lugar e um ano sem importância
Para qualquer um e para ninguém,
Esta carta não serve para nada, ou para quase nada. É apenas uma forma de passar o tempo, matar o tempo, gastar o tempo. Escrever bobagens para não prestar atenção no movimento das horas. E é o que faço! É o que me ajuda a dormir e a acordar e a encarar o choque real das coisas. São muitas as coisas ruins: brigas com ou sem sentido, rancor, decepções, morte, filas, trânsito, indiferença, enfim, muitas coisas mesmo! Por esta razão, escrevo e tento entender o que se passa conosco, seres racionais! Seres que destroem a própria casa, seres que se matam por tão pouco, seres que não ligam para nada, absolutamente nada! Penso na bomba atômica prestes a explodir e penso que algum terrorista em algum canto do mundo explode em um esquina qualquer. Com ele, explodem sonhos e sentimentos. Mundo, mundo, vasto mundo. Mas eu não me chamo Raimundo! Não sei nem mais qual é o meu nome. Bebem, comem, falam por mim tantas marcas e anúncios que me perdi já de mim. Não sou eu. Sou sei lá... Mas quando penso em Carlitos correndo como um louco e fazendo as pessoas rirem sem dizer uma só palavra, ou quando vejo uma criança se lambuzar de sorvete e não estar nem aí, ou ainda quando fecho os olhos e deixo com que o vento me toque e a sensação de estar solto, livre é tão grande... nesses momentos eu sei que há coisas especiais e coisas que valem um sorriso e um abraço e um aperto de mão. Eu escrevo enquanto as palavras me disserem que o tempo fica sem graça e tem vergonha de correr porque minhas histórias não são só minhas, mas de vários homens e mulheres que vivem e tentam entender o sentido de viver...