A farsa da vida acadêmica
Querido amigo,
as tuas palavras são angustiantes, conquanto verdadeiras. Durante o tempo em que exerci o magistério, pouquíssimos foram os alunos cultos que encontrei pelos bancos das universidades. Poderia fazê-lo, mas bem melhor não trazer números fechados. Triste realidade.
Não sou propriamente o que se pode chamar de uma mulher extremamente culta. Para merecer esse emblema – cruel que sou comigo mesma - deveria assumir, com muito mais galhardia, outros atributos, a serem desenvolvidos no dia a dia.
Possuo dons naturais extasiados pelas sendas das Artes e que, por transitarem na esfera da minha essência divina, permanecem originais, puros e distanciados da corrupção. Por outro lado, dons intelectuais que desenvolvi, em razão da sobrevivência, recebem mortíferos ataques. Nessa esfera, lutei com garras de mãe, de aprendiz, de professora, de ser humano. Nada bastou. Quiseram-me corrompida.
Neguei e nego-me vender os meus sorrisos ao "poder" e as minhas ações aos que desejam tão somente sobreviver em uma carcaça de mentiras. Fecho minhas mãos às esmolas alvissareiras. Busco na essência da minha vida princípios básicos e não temo represálias. Quanta arbitrariedade assisti! Ao peso das incoerências, venderam-se horas-aula, entre sorrisos e concupiscências. Testemunhei o vilipêndio das personalidades construídas sob fortes perspectivas de realizar o crescimento intelectual de parte da população, inferiorizada pela realidade fática, que afronta e destrói. E, por negar-me a sorrir quando tive vontade de chorar, por negar-me a beijar os pés dos malfeitores, como se fazia à época da escravidão, recebi açoites diferenciados, desenvolvidos para a atualidade. Sem abjurar, calei. Omissa, por diversas vezes.
Mas, não sem tempo, resolvi clamar pelos meus direitos. Apontei o dedo em riste aos senhorios do poder estabelecido. Indiquei falhas. Acusei e provei. Recebi abraços e beijos, sob promessas de que tudo mudaria. Sem me convencer, porque aprendi a ler olhos e bocas mentirosas, optei por acreditar nas minhas esperanças mais remotas. Mas, as mesmas bocas que prometeram mudanças, me caluniaram. As mesmas mãos que se apertaram às minhas, em gestos afetuosos, assinaram atos espúrios contra mim. Bocas mais honestas avisaram-me, enquanto outras me pediram para calar.
Acuada pelos compromissos materiais pressagiei, a mim mesma, que seria mais dócil no campo de batalha. Em realidade - envergonho-me de aqui confessar – ensaiei no pensamento os primeiros atos de corrupção de mim contra mim. Mas, as forças da natureza, em consonância ao rigor do meu destino, provocaram o grito dos meus sonhos, que me permitiu acordar e persistir nos meus ideais. Impossível fazer ouvido mouco aos desvarios. Inadmissível aclamar a ignorância e a preguiça. Sob qual fundamento ético, aprovar uma aluna que me entrega como trabalho final um texto escrito por mim mesma, disponível aos quatro ventos, a partir da minha própria página na Internet? Como permitir a barganha e a mendicância intelectual, por parte do corpo discente, a cada final de semestre? Sob quais parâmetros profissionais, aplaudir o colega que distribui a mesma nota para quase cinquenta alunos sem distinguir o bom e o ruim? Com que ouvidos aceitar críticas, por me negar à participação das farsas acadêmicas?
Hoje, sou o que se costuma chamar “vítima do sistema”. Arrancam-me a virgindade da alma a cortes de gilete. Retiram-me dos lugares onde melhor transito, sob a alegação de que sou profissional que gera despesas altas às empresas. Ou, ainda, percebe-se a incompetência intelectual de alguns dirigentes, que se curvam ao extremo, até mostrarem os fundilhos rasgados pela falta de ética. O medo da perda do status comprado ao preço da hipocrisia transforma-se em máquina destruidora. Não importa o quê e nem quem está à frente. E os primeiros a serem arrancados da terra, são justamente aqueles que contribuíram para o seu plantio, quando ainda árida e fedorenta.
Nesse momento, o meu Curriculum Vitae et Studiorum ameaça os incompetentes e, a mim, passa a ser um peso. Ao lado de uma personalidade feminina marcante, são os títulos e saberes intelectuais e técnicos, os meus maiores algozes.
Por felicidade, sou mulher e profissional de diversos talentos. E, nesse refrão, quedo-me a pensar se esta nova realidade - pungente a um primeiro olhar - pelos 58 anos de idade que ostento, não será minha carta de alforria.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Cabo Frio, 26 de abril de 2010 – 00h11
Querido amigo,
as tuas palavras são angustiantes, conquanto verdadeiras. Durante o tempo em que exerci o magistério, pouquíssimos foram os alunos cultos que encontrei pelos bancos das universidades. Poderia fazê-lo, mas bem melhor não trazer números fechados. Triste realidade.
Não sou propriamente o que se pode chamar de uma mulher extremamente culta. Para merecer esse emblema – cruel que sou comigo mesma - deveria assumir, com muito mais galhardia, outros atributos, a serem desenvolvidos no dia a dia.
Possuo dons naturais extasiados pelas sendas das Artes e que, por transitarem na esfera da minha essência divina, permanecem originais, puros e distanciados da corrupção. Por outro lado, dons intelectuais que desenvolvi, em razão da sobrevivência, recebem mortíferos ataques. Nessa esfera, lutei com garras de mãe, de aprendiz, de professora, de ser humano. Nada bastou. Quiseram-me corrompida.
Neguei e nego-me vender os meus sorrisos ao "poder" e as minhas ações aos que desejam tão somente sobreviver em uma carcaça de mentiras. Fecho minhas mãos às esmolas alvissareiras. Busco na essência da minha vida princípios básicos e não temo represálias. Quanta arbitrariedade assisti! Ao peso das incoerências, venderam-se horas-aula, entre sorrisos e concupiscências. Testemunhei o vilipêndio das personalidades construídas sob fortes perspectivas de realizar o crescimento intelectual de parte da população, inferiorizada pela realidade fática, que afronta e destrói. E, por negar-me a sorrir quando tive vontade de chorar, por negar-me a beijar os pés dos malfeitores, como se fazia à época da escravidão, recebi açoites diferenciados, desenvolvidos para a atualidade. Sem abjurar, calei. Omissa, por diversas vezes.
Mas, não sem tempo, resolvi clamar pelos meus direitos. Apontei o dedo em riste aos senhorios do poder estabelecido. Indiquei falhas. Acusei e provei. Recebi abraços e beijos, sob promessas de que tudo mudaria. Sem me convencer, porque aprendi a ler olhos e bocas mentirosas, optei por acreditar nas minhas esperanças mais remotas. Mas, as mesmas bocas que prometeram mudanças, me caluniaram. As mesmas mãos que se apertaram às minhas, em gestos afetuosos, assinaram atos espúrios contra mim. Bocas mais honestas avisaram-me, enquanto outras me pediram para calar.
Acuada pelos compromissos materiais pressagiei, a mim mesma, que seria mais dócil no campo de batalha. Em realidade - envergonho-me de aqui confessar – ensaiei no pensamento os primeiros atos de corrupção de mim contra mim. Mas, as forças da natureza, em consonância ao rigor do meu destino, provocaram o grito dos meus sonhos, que me permitiu acordar e persistir nos meus ideais. Impossível fazer ouvido mouco aos desvarios. Inadmissível aclamar a ignorância e a preguiça. Sob qual fundamento ético, aprovar uma aluna que me entrega como trabalho final um texto escrito por mim mesma, disponível aos quatro ventos, a partir da minha própria página na Internet? Como permitir a barganha e a mendicância intelectual, por parte do corpo discente, a cada final de semestre? Sob quais parâmetros profissionais, aplaudir o colega que distribui a mesma nota para quase cinquenta alunos sem distinguir o bom e o ruim? Com que ouvidos aceitar críticas, por me negar à participação das farsas acadêmicas?
Hoje, sou o que se costuma chamar “vítima do sistema”. Arrancam-me a virgindade da alma a cortes de gilete. Retiram-me dos lugares onde melhor transito, sob a alegação de que sou profissional que gera despesas altas às empresas. Ou, ainda, percebe-se a incompetência intelectual de alguns dirigentes, que se curvam ao extremo, até mostrarem os fundilhos rasgados pela falta de ética. O medo da perda do status comprado ao preço da hipocrisia transforma-se em máquina destruidora. Não importa o quê e nem quem está à frente. E os primeiros a serem arrancados da terra, são justamente aqueles que contribuíram para o seu plantio, quando ainda árida e fedorenta.
Nesse momento, o meu Curriculum Vitae et Studiorum ameaça os incompetentes e, a mim, passa a ser um peso. Ao lado de uma personalidade feminina marcante, são os títulos e saberes intelectuais e técnicos, os meus maiores algozes.
Por felicidade, sou mulher e profissional de diversos talentos. E, nesse refrão, quedo-me a pensar se esta nova realidade - pungente a um primeiro olhar - pelos 58 anos de idade que ostento, não será minha carta de alforria.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Cabo Frio, 26 de abril de 2010 – 00h11