Sentimento Inominado

Oi linda,

Sim, foi ótimo ter me encontrado pela internet.

Abrir minha caixa postal deixou de ser apenas um enfado. Eu que pensei que meu coração já estava quase parando, fico rindo sozinho ao percebê-lo acelerado quando encontro uma mensagem sua.

Quando voce não escreve, seus pensamentos sempre chegam até a mim. Aliás, sempre chegaram.

O maior sinal é que nós não nos esquecemos.

Estamos contrariando a "normalidade" e burlando a melhor obra do decurso de tempo.

O "esquecimento" que traz consigo a indiferença e, por fim, o abandono. Poderoso "tempo", que projeta o "concreto" na inércia. Que transforma sonhos em breves devaneios fugazes. Que faz das histórias de amor, nada mais que um papel mal escrito, borrado com lágrimas, meio apagado, amassado a rolar pelos cantos do chão da vida. Papel que jamais será lido novamente. Que aguarda dissolver em águas de chuva ou queimar em fogueira de noite fria.

Mas isso não aconteceu conosco. Nossa história está protegida nas recamaras do nosso coração, onde reside a "alma".

Nossa distância não durou para sempre e nem podia. Entre nós não há indiferença e jamais haverá abandono enquanto pudermos enxergar aqueles dois jovens, apaixonados, se beijando numa tarde de verão.

O sentimento que agora nos permeia é, maravilhosamente, "inominado". Porque nem tudo se explica. Nem tudo se entende. Nem tudo carece de regras ou pressupostos de admissibilidade. Não sei te dizer o que somos um do outro... Mas sei que não me sinto impuro ou desonesto com nosso cônjuge. Nem com ele (seu querido esposo) e nem com ela (minha doce mulher). São universos paralelos!

Não te quero, pois já te tenho. Não quero teu corpo, porque teu ser está dentro do meu. Não preciso beijar os teus lábios, pois já me beijaste eternamente.

Sou-te eternamente grato! Por me fazer lembrar quem, verdadeiramente, sou (já havia esquecido). Por me reaproximar daquele garoto meigo, sonhador e de bem com a vida. Eu precisava dele e não sabia. Devo isso a você. Como poderei, ou melhor... Como poderia te esquecer?

Linda, você é a memória viva e presente da melhor parte de mim. A impressão que deixei em você e que você, por amor, tornou indelével, me é um espelho (portal) que transcende às limitações do tempo e do espaço. É como poder tocar um sonho sem mudar sua natureza surreal.

É poder voltar à "Rua Ramalhetes" e passear livre de todas as "leis" do universo. Livre de todo o preconceito, que mata. Livre das línguas vorazes, que ferem. Livre dos nossos próprios paradigmas...

Sempre gostei de ser diferente e de pensar que posso fazer aquilo que quero da minha vida e sentimentos.

Às vezes dá certo!

Sua mãe tinha razão! Talvez, muito provavelmente, eu morra pobre! Decididamente eu nunca fui um "bom partido".

Fico feliz em pensar que ao ler tudo isso, você esteja sorrindo. Sempre te fiz sorrir e sempre amei te ver sorrindo. Quando te fiz chorar, não estava perto pra ver. Também chorei escondido...

Que bom que Deus nos permitiu este reencontro após cerca de trinta anos. Afinal, nem tudo na internet é fútil. Nem tudo é sujo ou traição ou apenas, informação. Nem tudo são negócios ou apelação.

Há também a fluência de sentimentos puros e sinceros. Há também o resgate de uma alma perdida na realidade fria e cruel. Há também aquele que se livra da solidão e percebe que existem outros como ele.

Não querendo abusar da boa vontade do Papai do céu, esperarei uma oportunidade para nos revermos e, de mãos dadas, colocarmos a conversa em dia. Teríamos que ficar falando uns dez anos sem parar ou, quem sabe, apenas nos olhando em silêncio. Passaria rápido!

Fica com Deus e se cuide.

Abraço carinhoso

Eu (sempre)