memórias da depressao i

Fiz muitas coisas erradas, e eu sabia que era errado, e eu não queria fazer, mas existia uma vontade que prevalecia sobre a minha. uma das coisas que me causava um sofrimento denso e continuado era a consciência de que aquilo era errado, era saber que podia fazer e tinha escolhido fazer a coisa certa, porem nao ter autonomia fisica nem moral sobre isso, e ver se desenhar diante dos meus olhos sob

a acusação de todo mundo os mais bizarros e defenestrantes atos que feriam exatamente a pessoa que eu mais desejava proteger, eu mesmo, a minha carreira, a minha reputação. no entanto, quanto mais eu tentava evitar mais e mais as coisas aconteciam, mais meus atos era mais repugnantes, mais chocantes, mais descontrolados, mais sofridos, e eu chorava feito uma criança perdida e sem pai, entao eu olhava para o lado e via que estava mesmo perdido, e via que nao tinha mesmo pai. apesar de tudo, dentro de mim estava tudo muito nítido, eu desejava muito me recompor, eu desejava muito não causar minha própria queda, porém foi isso que aconteceu. depois de cair vertiginosamente, como uma pedra desajeitada que se quebra montanha abaixo perdendo seus pedaços, ficando mais esférica, indo mais rápido, mais rápido, com mais violência, finalmente eu cheguei num estágio em que o movimento cessou, e eu passei a perceber o mundo através de um silêncio profundo e da imobilização física. eu vegetei por muito tempo numa cama, num puxadinho nos fundos da casa da minha mãe, longe dos meus filhos e numa terra estranha. todas as vozes e sons ao meu redor eu entendia, mas parecia que estava envolvido por uma áurea de sonhos. é, minha mente estava consciente, mas ainda sem ação nenhuma, e nem mesmo meus lábios eram portas de saída para qualquer grunhido. Muitos foram aqueles que se aproximaram de mim e me viram como um condenado, como um perdedor, como um vencido. nao precisavam falar isso, isso eu assimilava pela energia vibratória daqueles seres piedosos que me vieram lançar um olhar de curiosidade. eu nao queria nada, eu tinha descoberto a saída, mas ainda nao estava preparado para sair. certo dia fui até o portão e mirei a rua 13 num residencial situado na cidade de Goiânia, era por volta da três da tarde, nao falava fazia muito tempo, e continuei assim por mais alguns dias. Foi quando eu percebi que nao estava na minha terra, foi que eu percebi o que tinha acontecido, foi quando me voltou a capacidade de tomar decisão, e a primeira decisão que eu tomei era que nao consumiria nenhum tipo de energia venenosa, não, eu agora iria empregar toda minha capacidade de percepção em detectar o que me ofereciam, e eu ia dizer nao para muitas coisas. foi o que eu fiz, é o que eu faço. meu grande potencial intelectual me foi devolvido, mas recebi também uma enorme bagagem de conhecimento morais que os apliquei e passei a os usar imediatamente, sim. além disso eu percebi que a experiência adquirida poderia ser relatada de forma positiva, e é o que eu faço neste momento. sei o quanto é degradante o sofrimento vertiginoso de nao ser compreendido exatamente nesse estagio doído pelo qual estao passando muitos amigos, irmãos representantes humanos, e eu neste momento queria apenas dizer que compreendo, e por isso fico em silêncio, e por isso quando alguém quiser me ver e falar comigo vou está aqui, aqui em paz, aqui com fé, aqui no amor. que Deus abençoe a todos com a clara certeza de que talvez seja um fardo viver toda a vida pela frente, mas que é possível sempre viver o próximo segundo. assim seja. abraços.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 15/10/2012
Reeditado em 15/10/2012
Código do texto: T3933151
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