CARTA A SANTO ANTÔIN - Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Ed.09 Jun 2012

CARTA A SANTO ANTÔIN

Santo Antôin Casamentêro:

Usando a linguage do meu irmãozíin matuto, já qui sô um dêles puradoção; venho ao sinhô, inté pesarôso c’umas coisa qui tá me intristecendo; e munto... Prá um cabra qui nem eu, nascido na capitá e criado no mêi do mato, cum derêito a tudo qui um muleque do mato tem, in todos uis sintido; é triste a gente vê ais tradição “minguando”, uis valô qui nossos pai e avô nuis insinaro, indo tudo de êito, pur’água abaixo...Antes, no seu dia, ais comemoração cumeçava nove dia antes cum a “novena” in seu louvô, na véspa, tinha ais fuguêra, e o vuvuvú dais môça atráis do sinhô, mode arrumá um namorado. Era água in bacia cum pingo de vela; se avistava uma “istrêla se mudando”, pegava uma peda e butava debaixo do travissêro, mode sonhá cum quem ia se casá; se infiava uma faca no tronco de uma bananêra mode aparicê na faca, no ôto dia, a premêra letra do nome do namorado ô namorada e muntas ôta adivinhação dais quá num me alembro agora. Mais Santo Antôin; o pió tá acuntecendo. Ninguém mais qué namorá; uis namôro de hoje in dia; é triste eu lhe dizê, mais já parte p’ru “amancebamento”... E nais festa; Vige Santa; agora é um tá de ficá, cumo se tivesse provando a méicaduria numa barraca de fêra... E o peste do “ficá” já invadiu ais caatinga do meu amado e sufrido Nordeste brasilêro. Uis casá “fica” numa festa, e quando vai cada quá p’ru seu canto, muntas vêiz num sabe nem o nome um do ôto. E tem mais, já fica inté maquinando cum quem é qui vai ficá na próxima festa. Num é de lascá, uma arrumação dessa ? Cumo dizia o Véio Arcelino, é “a roda maió passado p’ru dento da menó”, lá isso é. Se nóis mais véio fô dizê quaiqué coisa; nóis é quem tá errado... Hoje é uma raridade a gente vê nuis terrêro, o mastro de bambú cum sua bandêra lá in riba. Ais lanterna de papé infeitando uis aipende, tombém tão se sumindo. Ais “musga”; pelo amô de Deuso; só fala in rapariga, in puta, in cachaça e in cabaré. Isso, cum a cunivênça dais Prefeitura qui in vêiz duis Forró Pé de Serra ginuíno, contrata não ais banda de forró; mais ais banda de putaria; isso sim. Isso, Santo Antôin, vai cada vêiz mais, imbrutecendo uis hôme e distratando ais muié. Mais elas mêrmo tem sua parte de curpa, pois elas mêrmo dão valô a essas “musga” qui distrata a elas mêrmo... Bom era nuis tempo qui ais festa junina, do sinhô, de São João e São Pêdo, preseivava ais tradição e ais raiz da nossa gente. Ais cabôca facêra, tudo se infeitava cum laço de fita, cum a saia rodada de xita, cum a bôca incarnada qui nem uma fruita de cardêro; e era tôda atenção para o poeta qui decramava prá ela, um poema de amô... Muié é a jóia mais preciosa desse mundão de meu Deuso; ela é mode sê isartada in prosa e verso; merece casa, cumida, rôpa lavada e munto, mais munto amô e caríin. Santo Antôin; teve uma coisa qui num mudô; foi a tradição dais fuguêra. Aqui mêrmo na capitá, eu num relaxo; na véspa e no seu dia, acendo a fuguêra logo cedo e rezo in seu louvô. Discuipe o disabafo, mais saiu do fundo do coração desse véio “poeta matuto cum nome de americano”,

Bob Motta

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 09/06/2012
Código do texto: T3713919
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