Segredo

É difícil me olhar no espelho depois de tanto tempo, já não me reconheço.

Vejo esse rosto gelado, coberto por olheiras, meio morto, cadavérico.

É mais feio ainda quando tento sorrir. Claro, de maneira falsa, nem tudo é perfeito.

Complica ainda mais quando você esconde um segredo.

Mas que segredo é esse?

Seria de amor? Ou rancor? Talvez fosse um medo, receio, paixão.

E só piora quando sou eu mesmo que esconde ele de mim, tentando me proteger contra meus próprios sentimentos.

E eu esqueço o que eu era, esqueço o que sou. E agora?

Só me sobra um espelho que reflete um rosto sozinho, só me resta essa cara que nem sei se é minha, e um segredo que nem sei qual é.

E o que sobra não me satisfaz mais, quero saber o que era.

Mas vou me afundando em memórias que já não sei se são minhas.

Aquela noite, aquele dia, aquela tarde rodeada de rostos vazios sentados em volta de algumas garrafas e maços vazios.

Eu ainda faço parte daquele mundo?

E o telefone toca:

- Vamos sair hoje, tomar umas, esquecer do mundo. Bora lá?

Abandono o espelho, não sem me olhar uma ultima vez, acho que me olho de maneira dura, dramática.

Coloco um lenço na cabeça para esconder as entradas, minha jaqueta de couro marrom, meu brinco de penas para dar sorte e saio.

Vou me embebedar, esquecer do mundo, esquecer de mim e do meu espelho, tentar abandonar meu segredo, que até hoje esqueço.

Mas que segredo?

Minari
Enviado por Minari em 17/04/2012
Reeditado em 18/04/2012
Código do texto: T3617981
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