Revelação

Este seria o dia mais frio? Ou o frio seria tão intenso a ponto de não ser mais sentido? Já fui queimado com fogo e água. Censurado com louvor e rebelião. Educado com tapas e beijos. Ofendido com palavras e carinhos. Afogado com líquidos e oxigênio. Vítima de experiências

e mesmices. Ultrapassado por lebres e tartarugas.

Mas amargurado por falta e excesso de amor era o que eu não esperava. Me sinto golpeado: na barriga, na consciência e na confiança. Um soldado perdido no campo de batalha. Um operário distraído no serviço. Um artista sem sentimentos. Um atleta...

Eu me sinto como um atleta que nada sem as pernas. Como um cego que estuda. Como um traficante fora do túmulo. Como um sonhador conquistador. Eu me sinto como um traído que ainda ama...

E eu acredito neste amor. Não me resta o que acreditar. E sei que "quem sabe faz a hora". Que o perdão é um passo para a confiança. Que quem se levanta não é atingido pela queda. A oportunidade e o desfavorecimento estão no mesmo trem. Pegar este trem é fácil, mas poucos têm a coragem. E vou-me embora antes que seja tarde. Abraços para os parentes e o embarque no trem barulhento da saída esfumaçada é ligeiro. Deixo para trás qualquer mala que contenha mágoa. Quero conhecer um novo mundo...

Um mundo que está por trás da ferrovia. Desejo que alguém me receba na próxima estação. Serei recebido como um desconhecido, porém como uma alma gêmea. A plataforma é a vida. É querer desafiar o desconhecido. A vida é o amor pelo que sinto. O que está por trás de uma fantasia. Uma revelação só barra a fotografia mal tirada.

[Texto dedicado para a minha grande amiga Yohana Castro]