CARTA DE FIM DE ANO
Mais um ano se vai e o tempo corre, ora menino, ora homem voraz e, por vezes, um velho que se arrasta como ponteiros soltos e imprecisos. Imprecisão. Digo a você que me lê agora uma coisa. Uma coisa só. Vida. Sabe o que é isso? Viver. Viver entre os seus e conhecer a si e os outros. Conhecer um pouco das coisas e respirar fundo e sentir a brisa e deixar-se ir por aguns instantes. Ser. Ser doido um pouco. Ser poeta um pouco. Ser desligado um pouco. A vida é um dom maravilhos, no entanto, perde-se muito tempo com bobagens. Palavras que não precisavam ser ditas. Gestos que não precisavam ser feitos. Bobagens. E fazemos como uma gaveta. Juntamos papéis e mais papéis. Amontoamos. Depois, ao cabar mais um ano, temos a tarefa de recolher o papel e queimar, rasgar, jogar fora.
Jogue fora as bobagens. Jogue mesmo. O tempo, como bem disse Vieira (um homem que sabia das coisas) tudo destrói. Se colunas de mármore não resistem ao tempo como resistiria o coração humano?
Espero que deixe as bobagens de lado e viva. Viver é um dom, não se esqueça.