Pulo no escuro

Se você quer se safar sozinha deste vôo, use seu pára-quedas, mude de nome, de cumprimento, de língua, de casa.

Se você encontrou uma verdade, reconstituiu sua vida, e é corajosa, como alardeia ao chamar os outros de medrosos, cumpra seu destino.

Já nem sei qual é seu nome.

Tanta coisa ao redor de nós! Tanto mistério!

É difícil conviver com a contingência humana!

Com esses frágeis sentidos, é impossível compreender tanta complexidade, Assolam a este grande ignoto toda sorte de mistificadores, alienistas... débeis.

Surgem fraudadores, impera o escapismo.

Hitler, na Alemanha nazista, entupiu a muitos de verdades. Os carismáticos e evangélicos enchem maracanãs de compulsivos comedores de festins teleológicos.

Os que não têm medo, aqueles que se bastam, que não necessitam das potencialidades humanas amplas de seus corpos e de seus meios sociais, também se albergam em verdades.

Ah, quantas verdades!

Senhores Jesuses, orientalismos... acumuladores de verdades.

Solitários herbívoros, execradores de homens normais, superiores seres meio-viventes, pensando-se superiores em seu alheamento... sua anestesia.

Também eu arrisco pensar alguma coisa:

O que vive morre e, por isso, teme a perda dos conteúdos “enganosos” da existência. Viver é neutro, é fogueira de purificação. Não se aprimora, alijando-se do ser a amplidão da vida.

Trabalhar-se a pessoa. Desistir da vida mundana em todo o seu espectro não demonstra coragem. É fácil ser monge no monastério, mas isso pode ser mais uma forma de fuga.

Não se deve considerar o que se chama de fuga como coisa ruim, mas todo caminho é movimento roto se pavimentado de arrogância . É bom conhecerem-se a fragilidade dos fundamentos dos caminhos, e a verdade definitiva: daqui não nada levamos!

Os necessários e fundamentais desejos têm pés de barro. Manter um centro de referência humana individual, dentro do amplo e complexo mundo onde se vive não é tarefa fácil; ser o companheiro solidário dessa viagem grupal sem sentido e razão dessa humanidade perdida nessa grande e desorientada nave.

Há muito não converso com radicais. Já cancelei muitos pontos de contato com o mundo, mas continuo solidário com a humanália e convivendo com ela. Não virarei nunca as costas aos que de tanto precisamos, mesmo nem perspectiva de nada sendo.

Com esses nadas todos, reconheço compromissos profundos.

BH, em 11/01/99

Raw Lin Son
Enviado por Raw Lin Son em 01/12/2011
Reeditado em 03/12/2011
Código do texto: T3366959