Laços de um suicídio
Hoje eu chorei mais do que qualquer ser. Chorei mais até mesmo que os céus ( que por sinal sentiram minha dor no negrume diurno). Quis saber, o porquê tanto sofrimento, tanta dor e tanta tortura.
Céus, porque fizestes isto comigo? Porque me castigara ao tirar a pessoa que mais amo no mundo, porque ele se foi? Tu percebes a falta que ele me faz? Percebestes que agora tudo se encontra perdido? Tudo está negro? Tudo me dói? E pior de tudo, é que todos os gestos, coisas, assuntos, manias e até mesmo brigas estão se remoendo em mim, como chamas que não param de queimar, flamejam sem indícios de um fim.
É como o castigo aplicado ao deus nórdico Loki. Arde mais que o veneno da cobra escorrendo sobre meu rosto. Machuca mais que uma apunhalada, e seria mais fácil eu, ao invés dele. Porém para isso, não precisei de atrevimentos, muito menos ele.
Porque não eu? Ele tão cheio de si, tão cheio de vida, sonhos e pensamentos...
E eu? Será que tenho alguma virtude que flui em mim? Infelizmente, cheiro a sepulcro, sou chata e enfadonha. Sou uma memória póstuma ambulante, já que te perdi.
E diante de tal situação, não vejo outra solução se não o fim da minha vida.
E com as mãos em minha forca, vejo se estou preparada pra encarar um ritual tão célebre descrito no universo brasileiro. Sinto-me como elas. Sinto-me como eles. Pobre Madalena, pobre mãe de Moura. Pobre de mim. Sou apenas qualquer uma que digo adeus a vida. Palavras agora serão apenas palavras. Isto dói mais do que qualquer um pode imaginar. Em mim agora permanecerá apenas uma marca. Eu te amei, e amarei. Esse é meu fim e também meu inicio. Adeus.
Ramos, Maria 28 de setembro de 1950, 30 de janeiro de 1985