CARTA ABERTA AO CIRURGIÃO DR. VALDO - Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Ed. 05.11.2011
Meu caro Dr. Valdo:
Dentro de poucos dias, nós vamos nos encontrar no Centro Cirúrgico, onde o senhor vai proceder uma safena no “Poeta Matuto Cum Nome de Americano”. Abaixo do nosso Pai Maior, confio cega, total e absolutamente, no Dr. Zé Valério, no senhor e em toda sua equipe. Derna qui o mundo é mundo, dizem os sábios qui “quem tem C... tem mêdo”; e eu não sou nem quero ser exceção dessa regra. Mas, porém, todavia, contudo e entretanto; o confiança em todos vocês é “n” vezes maior do que o mêdo; mais “qui o peste tá me incomodando; lá isso tá”... Mais dotô, o motivo dessa minha “iscrivinhação”, é lhe prevenir sobre o que o senhor vai encontrar no meu coração, fora a “doença ateroscleróstica” (Ô nome cumpricado da bixiga!...). Num s’ispante cum uis sons que vais escutar durante a cirurgia, cumo abôio de vaquêro, samba de gafiêra, samba de forró, forró, canturia de viola, risada escandalosa, decramação de poema matuto, “repreensão de meu pai”, peido, arrastado de pinico, mamãe cantando mode eu drumí, o som da minha “iscaletta” qui eu tocava nais serenata qui fazia prá minha musa inspiradora, minha viola caipira, cunversa de putaria minha e de meus colega; pois ais pratilêra de minha memóra, tá tudíin munto bem guardada dento do meu véio coração. Lá, o sinhô tombém vai incontrá ais cunversa do Buteco de Nazir, ais iscramação de admiração do Dotô Manoel de Brito, ais putaria do meu cunhado Adiel de Lima, ais cunversa do Mestre Cascudo lá na Confeitaria Delícia, uis papo de Seu Olívio Português; de Dotô Hernane Hugo, na calçada da Delegacia em sua “espreguiçadeira” em frente ao Bar da Tripa. Vai uví ais cunversa prá lá de “instrutiva”, minha cum Teimoso, Seu Chimba, Chapéu Cagado, O Véio Fulêro, cumpade Júlio Prêto, Mário Véio. E nais “parede do bicho” ?! Fotos dais pescaria de sirí e dais feijoada debaixo dais algaroba em frente ao “cais da Base Naval”; duis pique nique cum meu pai, na bêra da Lagoa dais Ixtrema; de Chica Prêta e Baliza (ais burra de João Domingos...); do Bar de Dona Helena, na Rua São Pedo, nais Roca; de Zé Fufú vestido de “Amigo da Onça”, nos carnavais do passado; de Duruca, Nazareno e Víule; de meus irmãos Clóvis Motta e Zé Quirino; de Mané Doido, Bastião Doido, Bastião Lagoa, lá de Boa Vista-PB e do Doido de São Joãozinho; duis “Beréu lá dais Bunina e do Canarinho”, lá em Campina Grande-PB; da série do Cinema Rex, nos domingos de manhã; de Elino Julião no Forró da Coréia; duis forró no Francesinha e no Acapulco; do Ximba Meu Boi, na bêra da linha, perto do portão da Base Naval; duis banhos no Canal do Baldo; do Capitão Tony, na “Muralha da Morte”, na Praça André de Albuquerque; duis assaltos carnavalescos na casa do meu pai; da Festa da Mocidade, na Praça pio X; do velho “Salada”, vendendo cachorro quente na porta da esquina da Padaria em frente ao Colégio Marista; enfim, tudo isso e mais algumas coisas, o senhor com certeza irá encontrar. Lá, o senhor também irá encontrar mágoas e ressentimentos de algumas pessoas; mas isso, eu quero lhe pedir até pelo amor de Deus, que o senhor tire junto com a doença material. Ais “fulêrage” e uis sons dais dita, cuja, referida; o sinhô pode dêxá, qui eu lhe garanto qui é o qui ainda tá ajudando meu coração a cuntinuá batendo... Ais mágoas e uis ressintimento, qui é o qui tá intupindo mais, dotô; por tudo desse mundão de meu Deus, me ajude a tirá de lá, qui é o qui mais tá me fazendo mal. O coração de um poeta, além de “músculo cardíaco”, é prá ser, na mais pura acepção da palavra, sem qualquer regra ou convenção; um “depósito de amor e emoções positivas”... Repito; cunfio no sinhô; mais qui o mêdo tá grande; tá... Tô “arrochado qui nem um prato de papa”!...