A ÚLTIMA CARTA

A senhora me atendeu. Visitou meu sonho naquela noite fria, quando a minh´alma inquieta já não mais esperava. Sua visita fez meu sonho ser algo mais. Trouxe alento e certeza de que a vida nos unirá outra vez, não sei quando, em qual dos planos misteriosos do infinito, mas neste momento é necessário libertá-la.

No sonho a vi translúcida. Seu rosto estava sereno. Sua voz mansa e aveludada me abençoou como sempre fazia. Num abraço envolvente, seguro e longo, a senhora me falou da saudade que sentia de nós, do amor que sempre nos dedicou, e fez um pedido. Disse que precisava partir, seguir seu caminho, mas a nossa dor, nosso lamento e a tristeza não estavam deixando. Neste plano, seu amor jamais a deixou se desprender; sua preocupação conosco a mantinha perto; ao redor... E aos seus olhos, nunca deixamos de ser crianças... Mas dessa vez, precisava mesmo ir.

Quanto a mim, seu pedido velado e carinhoso foi de que não a chamasse mais, durante as noites. Não conversasse mais com o seu retrato. Não lamentasse a sua partida. Explicou que o seu espírito não teria forças para romper com este plano, como tem que ser, enquanto ainda notasse um de nós abatido por não conseguir superar o trauma de já não tê-la.

Quando acordei, não parecia ter acordado. Na verdade, acho que não acordei mesmo. Voltei do encontro real que tive com a senhora. Um encontro importante para me fazer aceitar que a vida prossegue; no entanto, em planos diferentes para nós. Nada poderá reverter essa realidade, fazer o tempo recuar e repetir o que foi vivido.

Agora vá... Vá em paz. Prometo ficar bem. De alguma forma entendi que ainda nos encontraremos, mas não aqui. Seja como for, posso lhe garantir que pelo tempo restante sobre a terra, seja o tempo que for, o amor que a senhora nos dedicou será bastante para nos manter firmes.

Só mais uma vez lhe peço, antes deste adeus, a sua bênção... Não apenas para mim... Mas para todos que a senhora deixou aqui, mal acostumados com tanta dedicação, proteção e presença.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 05/07/2011
Código do texto: T3076403
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