Carta de Amor para Dois Amores (Uma só paixão)
Minhas Queridas:
Faz algum tempo que venho pensando em escrever-lhes, para dizer o quanto as amo, o quanto gosto de vocês.
Porém, em certos momentos fico pensando como as pessoas que tomarem conhecimento desta, vão interpretar uma declaração de amor de um homem velho, pois estou com 72 anos de idade, a pessoas tão jovens, alegres e tão lindas como vocês.
De certo que irão rir-se de mim, mas, a esta altura, pouco me importa que riam, pouco me importa que me chamem de velho ridículo, que digam que estou ficando gagá.
Verdade é, no entanto, que hoje finalmente, tomei a decisão de escrever-lhes – independente do que possam vir a comentar – para confessar-lhes a grandiosidade do meu amor por vocês.
Amo-as com todas as forças que o meu velho coração ainda possui.
Não é um amor banal, passageiro, um amor interesseiro, uma paixão enfim.
Não, não é nada disso; É um amor puro, verdadeiro daqueles que a gente sente no primeiro momento e que nos acompanha pelo resto da vida sendo que nada consegue apagá-lo das nossas mentes, tirá-lo do nosso coração.
Na verdade vocês surgiram na minha vida, apareceram diante dos meus olhos, em momentos muito importantes da minha vida.
Em momentos em que me encontrava desiludido de tudo, da própria vida, do direito de continuar vivendo.
Conhecê-las, portanto, posso até dizer sem medo de estar errando, em grande parte salvou-me, trouxe-me de volta a realidade e essa realidade, no momento são vocês.
Vocês não me conhecem, e nem poderiam, pois, de verdade ainda não fomos apresentados, mas já estivemos juntos em inúmeras ocasiões tendo em todas elas, vocês sorrido para mim, flertado comigo, demonstrando afeição pela minha pessoa e, sinceramente, é uma pena essa grande diferença de idade existente entre nós.
Com certeza, quando vocês vierem a tomar consciência do amor que poderia nos ligar, eu aqui já não mais estarei.
E vocês?
Vocês não.
Vocês estarão na plenitude da sua juventude, estarão vivendo os seus anos dourados que, tenho certeza absoluta, jamais irão se acabar.
A vida de vocês será repleta de alegrias, e de muita – mas muita mesmo – felicidade e, volto a dizer, é uma pena que este velho que hoje lhes escreve não vá poder compartilhar dessas alegrias, dessa felicidade bem juntinho de vocês.
Sim, porque tenho certeza que iríamos nos dar muito bem no futuro.
Quero que vocês saibam minhas queridas, que lhes amo muito e que nada nem ninguém ira ocupar o lugar que vocês ocupam hoje no meu coração.
Tudo de bom na vida desejo a vocês e a seus pais, os quais conheço muito bem, principalmente sua mãe, minha velha amiga e conhecida.
Por coincidência, também a madrinha de vocês é uma velha amiga e conhecida minha, de forma que, espero, uma das duas, no futuro, lhes fale a meu respeito.
Não de que fui um advogado fracassado, um homem que nada conseguiu realizar na vida, mas sim, dos momentos alegres em que estivemos juntos, em que brincamos, em que nos distraímos com coisas pequenas e banais, mas que para nós foram motivo de muita alegria.
Há muitos anos atrás, uma velha conhecida minha, naquela época minha namorada, mandou-me uma poesia de uma americana chamada Elizabeth Barret que guardo com muito carinho.
Na época, significou muito para mim e se hoje para ela nada significa, para mim continua mais presente do que nunca.
Por uma dessas coincidências da vida, diz exatamente aquilo que eu gostaria de poder dizer-lhes e, se vocês não se incomodam, vou transcrevê-la aqui para que sintam toda a intensidade do meu querer, do meu imenso e profundo amor e para que, no futuro, quando se lembrarem deste seu velho fã, possam meditar sobre a grandiosidade do que ali está escrito.
A poesia chama-se “AMO-TE” e diz assim:
“AMO-TE QUANTO EM LARGO ALTO E PROFUNDO
MINH’ALMA ALCANÇA QUANDO TRANSPORTADA,
SENTE, ALONGANDO OS OLHOS DESTE MUNDO,
OS FINS DO SER, A GRAÇA ENTRESSONHADA.
AMO-TE EM CADA DIA, HORA E SEGUNDO,
A LUZ DO SOL, NA NOITE SOSSEGADA
E É TÃO PURA A PAIXÃO DE QUE ME INUNDO
QUANTO O PUDOR DOS QUE NÃO PEDEM NADA.
AMO-TE COM O DOER DAS VELHAS PENAS,
COM SORRISOS, COM LÁGRIMAS DE PRECE,
E A FÉ DA MINHA INFÂNCIA, INGÊNUA E FORTE
AMO-TE ATÉ NAS COISAS MAIS PEQUENAS
POR TODA A VIDA. E, ASSIM DEUS O QUISER,
AINDA MAIS TE AMAREI DEPOIS DA MORTE.”
Meus amores.
Acho que já me expandi demais nesta pequena cartinha que lhes escrevo ao mesmo tempo, e que um dia, tenho certeza, vocês irão lê-la e, talvez, tentem matar sua curiosidade junto a seus pais, querendo saber quem foi o velho que escreveu tanta bobagem para vocês.
Recebam, pois, Letícia e Isadora, minhas muito queridas netinhas, um beijo inteiramente carregado de amor e de carinho, do seu velho avô que muito, mas, muito mesmo, as ama e continuará amando, como disse na poesia, mesmo depois da morte.
Beijos.
Sylvio