À MINHA MÃE SEVERINA MOTTA (IN MEMORIAN) - Matéria do Cantinho do Zé Povo - O Jornal de Hoje - Natal-RN - Ed. de 07 Maio 2011
Mamãe:
Hoje eu tava matutando sobre os motivos que causam sofrimento no ser humano. E justamente hoje, no seu dia, reverencio a Deusa que me carregou no ventre por nove meses, e nos braços, enquanto vida material, possuiu. Essa Deusa é você, mãezinha! No meu “matutamento” que lhe falei no início desse texto, cheguei à conclusão que para a ausência, bem como para a falta que a mãe faz ao filho; não existem palavras que dimensionem o teor da dor que invade o peito do indivíduo. No mundo, sem a mãe, como diz o poeta matuto, a gente fica “cuma se fôsse uma fuimiga, nuis pé de um alefante”... Você pode ficar na certeza, mãezinha; que é dêsse jeitinho mêrmo; de ontonte prá cá, eu tô; “qui nem uma fuimiga nuis pé de um alefante; e sofrendo mais do que rato in casa de ferrage”; do mêrmo jeito que fiquei naquele fatídico 12 de junho de 1985, quando Papai do Céu mandou lhe buscar para distribuir amor e fraternidade no além. E eu notei, mãezinha, que a ferida do lado esquerdo do meu peito, continua aberta, sangrando e doendo como nunca. E a dor é tão intensa e pesada, como no momento em que tomei conhecimento de sua desencarnação. A saudade é doída, machucantemente doída; e seu filho sente essa “psicalgia” (dor na alma); em toda sua plenitude. É, mãe; como eu já lhe disse por diversas vezes, o alcoolismo é tido e havido como “a doença da solidão”, onde seu portador é rejeitado por todos que o rodeiam; e jogado, sem dó nem piedade, literalmente na rua da amargura... É como se a gente tivesse caído num lamaçal e não nos fosse dado o direito de tomar um banho para ficar limpo diante da sociedade... E nesses últimos dias, eu tenho me sentido igualzinho a quando me encontrava no auge da doença. Retorno em pensamento, pesarosamente, há mais ou menos 20 anos atrás (tempo em que me encontro sóbrio, sem ingerir uma única gôta de álcool...), e me vejo totalmente sujo, por dentro e por fora; e com o desespero batendo com uma insistência muito grande na minha porta... É assim que a falta de oportunidade para o trabalho que desenvolvo, faz eu me sentir no atual momento da minha vida. Quantas vezes clamei por seu nome na solidão das noites mal dormidas; quando quase que ao relento; clamava por você e pensava comigo mesmo, que você ou não me ouvia, ou seus mentores espirituais não permitiam que me ouvisse e/ou enxergasse meu sofrimento; para que você não viesse a sofrer tanto quanto eu. Hoje, mãe; se eu lhe disser que estou jogado na rua da amargura, não estarei, de todo, mentindo; pois, enquanto chega um para me dar um empurrãozinho para cima; vem uma centena tentando me puxar para baixo. Parafraseando o jornalista Cassiano Arruda; ainda tem muita gente que gasta duzentos para que o outro não venha a ganhar vinte. Ainda tem gente (se é que se pode chamar isso de gente...) que se deleita com a desgraça alheia e com a falta de oportunidade reinante, para quem busca com o dom que Deus lhe deu, a sua dignidade. Hoje é um dos dias que se você aqui estivesse materialmente, eu correria ligeiro para a casa de número 866 da Av. Rio Branco, lá na velha Ladeira do Baldo. E naquele velho balanço de ferro do terraço de lado da casa do saudoso Dr. João Dutra, deitaria no seu colo. E mesmo nos meus seis ponto dois anos de idade, voltaria a ser o seu caçula, aquele menino raquítico e carente de você, mamãe; em todos os sentidos que um ser humano possa imaginar. E na quentura do seu colo e no afago de seus beijos e das suas mãos enrugadas, eu sei que estaria a salvo de tudo e de todos que por ventura, imaginassem me prejudicar, de qualquer forma que fosse. Mas infelizmente, a realidade é “dura, cruel e implacável”. No que pese uma meia dúzia de AMIGOS (com todas as letras maiúsculas) que acreditam em mim e na lisura do meu trabalho; hoje é um dia, que mesmo no meio de uma incalculável multidão, mãezinha; pode ficar na mais plena certeza de que eu estou me sentindo muito pior do que sozinho; estou me sentindo sem você... Beijos do seu filho,
Bob.