CARTA AO MESTRE CÂMARA CASCUDO - Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-NATAL-RN-Ed. de 21 AGO 2010
Amado Mestre:
Ninguém melhor do que o senhor, para eu me dirigir hoje, véspera do Dia do Folclore. Hoje, Mestre Cascudo; nós, irreconhecidos lutadores em defesa das nossas raízes culturais, além do mais que dever, direito de reverenciar a sua memória, eu diria que não temos absolutamente nada que comemorar. Hoje, com raras e honrosíssimas exceções, como são os casos louváveis e isolados do Doutor Jaime Calado, Prefeito da minha querida cidade de São Gonçalo do Amarante; de Shirley Targino, Prefeita de Messias Targino; de Dona Graça, Prefeita de Monte Alegre e da Prefeita Fafá Rosado, com seu Mossoró Cidade Junina; não temos apoio na esfera governamental; seja esse apoio, a nível municipal ou estadual. A nível federal; aí é que se dana tudo... São publicados editais, a mídia noticia, mas é uma”burrocracia tão fela da gaita”, que o agente cultural desiste de pelo menos tentar alcançar seu objetivo... Mas, mudando apenas uma palavra do pensamento do grande Euclides da Cunha, quando enfatizava que “o sertanejo é, acima de tudo, um forte”; eu, um grão de areia nesse deserto de toda sorte de dificuldade, diria que “o agente cultural, principalmente da cultura popular, é, acima de tudo; forte e persistente”... Quando chegamos aos gabinetes, tentando falar, com o “chefe”, o que deveria ser responsável por nossa causa, na maioria das vezes, somos barrados, de cara, pelos “secretários (as)”; que querem saber qual é o assunto; e se a gente não informa qual é o assunto, já dizem que Doutor Fulano “está em reunião”... É um”chá de cadêra” da bixiga! E assim mesmo, Mestre; ainda continuamos insistindo em “preservar nossa identidade cultural”; sem lenço, sem documento, mas com muita coragem .Faço parte da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, e sei das dificuldades enfrentadas pelo Professor SeverinoVicente e por nós outros... A gente se reúne, delibera os assuntos; e na hora do “pega prá capá; de chegar junto;de chegar a bunda prá seringa”, vem a palavra final do órgão competente:”Não temos repasse para isso. É triste, Mestre; mas é a pura verdade. É verdade também, que aqui, acolá; encontramos um “fíi de Nossa Sinhora” no nosso caminho; tipo o Doutor Marcone Marinho, do SESC; que por sua atuação; eu já enfatizei”n” vezes, que o SESC deveria ter na sua sigla, mais uma letra “C”, referente ao incansável apoio que dá à cultura, não somente da cidade do Natal, mas de todo o Rio Grande do Norte. Louvamos o trabalho do Poeta Abaeté, da Casa do Cordel; dos Produtores Culturais Rossine Cruz, da Budega Véia, William Colier do Projeto Por do Sol do Potengí, de Marcos Lopes, com seu Museu do Vaqueiro; bem como do Poeta Paulo Varela, eternizando a Casa de Taipa em tudo que é de evento. É uma luta prá lá de desigual, mas haveremos de lograr êxito nessa empreitada de preservação. Na 46a. Reunião da SBPC,em julho próximo passado, já vimos muitas crianças fazendo parte de Grupos Folclóricos, o que nos dá uma belíssima perspectiva de continuidade daquela manifestação cultural. E esse povo, que se diz comprometido com a cultura do Rio Grande do Norte, tá querendo voto no dia 03 de outubro próximo vindouro... O senhor não acha, Mestre Cascudo, que o eleitor deveria escolher com muito cuidado em quem votar ? Será que êle, o eleitor quer que nossa cidade, nosso Estado e nosso Litoral continue sendo “Casa da Luz Vermelha para os artistas que vem de fora” ? Essa indagação, Mestre; só êle pode responder em 03 de outubro. Amado Mestre; “num se arrivire na cova não; tenha paciênça. Se num fô munta petulança de minha parte, puromeno mode potrestá e fazê zuada, O Cantinho do Zé Povo tá aqui, firme e forte”... É isso aí. E no mais; é isso mêrmo! Abraços saudosos do ”Poeta Matuto Cum Nome de Americano”,
Bob Motta.