Mudança e Progresso
Uma vez um jovem professor contava uma história a seus alunos. Não me lembro ao certo se era bem essa, com o passar do tempo, com o vir da idade e da morte, tudo parece ficar um pouco confuso. Mas vou tentar.
Havia um garoto, um menino. Sonhava em ir para a América. Sonhava em ser Médico. Ser doutor. Mas isso, não eram seus sonhos. Eram os sonhos de seus pais. Quando nasceu, sonharam por ele. Um dia, pois bem, que este dia chega, ele sonho por si próprio. Não sonhos muito diferentes. Queria ser da policia, ser professor, engenheiro. Queria tantas coisas, que deixou certo vazio em sua mente, sobre aquilo que realmente queria. Não que fosse preciso conhecer o que deseja ser, sabia, muito bem, o que não queria.
Só que como o tempo, sua vida passou. Mudou de sonhos. Queria ser pai. Ser avô. Ser rico e escritor. Mudou de novo. Renegou e manteve tanto de seus sonhos no passado, que já daria para fazer uma história só com eles.
E a vida segue, assim como tempo. Ele novamente mudou. Manteve algo, regrediu e evoluiu. Definiu-se e chegou ao postulado, que hoje, assim dizia o professor, vou trazer-lhes: “Não permitam que suas vidas sejam uma grande mudança.” Uma aluna torceu os olhos, outra coçou a cabeça. Um menino, este sim, corajoso, ergueu o braço, e disse: “Mas se não mudarmos, como evoluiremos?”. O professor chocado e revoltado com o questionamento disse: “Mudar não é necessariamente um progresso. Veja nosso país: tantas vezes mudou. Foi Império, República, Ditadura e hoje é o quê? Não sabemos se é país ou se é outra coisa. Portanto, não permitam que suas vidas sejam mudanças. Pois a mudança é fator indubitável da vida, mas o progresso, não.”
Hoje, não sei bem se entendi o que ele me disse. Talvez eu tenha entendido. Talvez não tenha. Mas hoje eu compreendo. Sei que não posso ser como queria Raul, “uma metamorfose ambulante.” Não posso. Eu sou um poço do progresso. Mudar? Eu até mudo. Mas mantenho sempre um plano de retorno. Posso um dia precisar do que fui. Posso precisar daquilo que está no passado. Daquilo que não existe mais. Daquilo que alguns não querem mais ver. Eu mantenho vivo no meu “HD”, mantenho lá, adormecido. Quem sabe um dia precise voltar a ser aquele aluno questionador. Quem sabe um dia precise voltar a ser aquele professor, ensinando a si próprio.
Hoje? Hoje sou apenas o homem sentando em um computador, escrevendo. Escrevendo sobre a vida, sobre algo que não é. Sobre uma verdade que é minha, uma verdade que não diz respeito a mais ninguém. Porque o que vivo, vivo. O que sinto, sinto. Sei que pode parecer egoísmo. Mas agora, deixei de ser o homem sentado no computador e me tornei implícito. Deixei de ser, tornei-me um quase ser, um arquetípico. Como sei que você, aquele que me lê, gosta de mim como Escritor, acabo por aqui meu questionamento do progresso e da mudança.
Como nota final, para não ter de fazer “PS” ou “Notas do Autor”, digo: espero que meu leitor tenha compreendido minha crítica. Minha sutil crítica. E por fim, nada melhor que Gonçalves, para mostrar meu amor: “Não permita Deus que eu morra/ Sem que volte para lá”