CARTA ABERTA DE UM MATUTO A SANTO ANTÔIN - Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-NATAL-RN-Ed. de 12 de junho de 2010

Meu Santo Antôin:

O sinhô já tá canso de sabê, qui eu, nascido na capitá; tanto falo no linguajá duis dotô, cuma no duis matuto; pois tenho orgúio in dizê qui a minha históra cumeçô in Natá-RN e inverêdô puro interiô nordestino, de cabo a rabo; adonde inda tô batendo perna, graças a Papai do Céu. Tanto, qui fui adotado puro Cariry paraibano, pedaço de chão munto amado, qui me adotô cumo fíi de fato e de derêito. De fato, derna d’eu piquininíin, quando passei minha infança e grande parte de minha mocidade; e adonde cursei a Maió Universidade do Mundo, adonde tive cumo professô catedrático, meu cumpade Júlio Prêto e cumo reitô, meu véio e sardoso pai, o matuto nascido in Carauarú-PE, João Motta. De derêito, derna do dia 26 de dezembro de 2004, quando arrecebí, na minha amada Boa Vista-PB, o Tito de Cidadão Boavistense, pura divurgação da curtura populá nordestina. E nessa minha vivença, abracei a causa da preséivação dais nossas raíz curturá. É purisso, Santo Antôin; qui hoje, véspa do seu dia, QUERO LHE FAZÊ UMA QUÊXA... É, meu Santo; se num aparicê mais doido qui nem eu, Sivirino Vicente, Gutemberg Costa, Deífo Gurgé, Dotô Iaperí Araújo, da Cumissão Norte-Rigrandense do Foquilóre; Rossine Cruz, da Budega Véia; Marcos Lopes, do Forró da Lua; Peixoto, Prefeito de Ceará Mirim-RN; Maicone Maríin, do SESC, sigra qui a meu vê, divia tê mais uma letra “C”, de curtura; Coliê, do Projeto Pô do Só do Potengí; e mais aigum “gato pingado” qui num alembro agora; nossas raíz curturá, puro menos aqui in Natá e parte do RN, vão findá sendo assassinada friamente puressa tá grobalização... Antigamente, munto antes da véspa do seu dia, o sinhô já cumeçava a sê apurrinhado puras “moça” (e era moça mêrmo; cum cabaço e tudo...), mode lhe arrumá um namorado; argúem qui lhe tirasse do poço da solidão. Elas fazia “tudo o qui era de milacria” mode arranjá um infiliz d’um namorado. Era tanta da adivinhação qui num dá prá inumerá tudo; qué vê ? Era Água na bacia e rezá trêis Pai Nosso e trêis Ave Maria, pingando a vela derretida na água, mode uis pingo fóimá a premêra letra do nome do peste cum quem ela ía se casá... Era uma “faca virge” infiada no tronco de uma bananêra na véspa; e no seu dia, era prá tá iscrito na faca, a iniciá do nome do namorado... Na noite da véspa, ficava no terrêro, oiando pru céu, tucaiando quando “uma istrêla se mudava” (o qui hoje in dia se chama de istrêla cadente...), mode apanhá uma peda e butá debaixo do travissêro e sonhá cum quem ía se casá. E quando arrumava um namorado, Santo Antôin, era uma felicidade só. E elas era recunhincida; tudíin ía rezá nuis seus pé, cumo fóima de agradicimento. Hoje in dia, meu Santo; tão assassinando o amô; ninguém mais qué namorá. Adispôi qui arrumaro êsse tá de FICÁ, acabaro cum a morá, a decença; e eu m’axtrevo inté a dizê qui tá acabando cum o próprio sintimento duis jove. Antigamente, Santo Antôin; essa palavra FICÁ, era usada quando uis rapaiz ía p’ruis cabaré; numa noite ficava cum uma daquelas “surupemba”, de ôta vêiz já ficava cum ôta. E hoje, a grande maioria dais jove inté se vanguloria cumentando cum ais colega: Hoje eu FIQUEI cum fulano!... Cumo me dixe meu paricêro Zé Lezíin, ontonte de noite, quando fui abri seu show no Triato Aiberto Maranhão, aqui in Natá; ais jove, uma noite fica cum um, na noite siguinte já é cum ôto; dispôi fica protistuta, dispôi fica cum AIDS, ais vêiz cum um minino no buxo e num sabe nem quem é o pai; tem qui fazê o tá do DNA... Será qui nossos pai erraro quando nuis insinaro uis valô da moralidade ? Aí, Santo Antôin; eu fico maginando e matutando na minha. Quando eu dêxo iscapá nuis meus poema matuto uma “putariazinha do tamãe de um mucuíin”; uis povo farso moralista, já me chama de imorá...Imorá é um saláro mínimo de R$ 510,00; é ais chacina nais periferia dais cidade; é a injustiça sociá; é a sigurança do nosso estado e da nossa cidade; é a saúde; é apoiá uis artista qui vem de fora e dêxá na rua da amaigura uis artista da terra; é a farta de oportunidade para quem trabáia cum seriedade, mêrmo fazendo uis ôto surrí (pois nuis dia de hoje, cum tanta disgraça, fazê surrí é coisa séra...). Taí, meu Santo; no fim de tanta quêxa e recramação; quero lhe agradicê a muié qui o sinhô me deu; qui faiz trinta e oito ano qui nóis FIQUEMO e tamo junto inté hoje...

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 12/06/2010
Código do texto: T2315446
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.