É o meu avô

Tenho tão pouco tempo, porém não quero dizer literalmente, é que todos saíram de casa e não demorarão a retornar, e somente esse tempo tenho a escrever. Serei breve, pois esse momento também pode passar e ir embora de mim a qualquer instante. E ficarei sem completar o que quero dizer...

Eu acordo e vejo que agora tudo está bem... Lentamente ando, e são belíssimas as pequenas coisas que tenho ao meu redor, eu reconheço nesse breve segundo de inocência.

Eu não mudaria nada sobre...

Mim?

Ele foi assim, tudo. O herói de minha pequenez, o sorriso que ecoava na sala e que alegremente me levava a sorrir também contagiando meu íntimo, mesmo eu não sabendo o porquê da graça.

Dele eu pude conhecer o simples, do poder e não poder. Certo e errado. Foi ele que ao meu lado me guiava sobre o chão, segurando-me a mão e dizendo firmemente “Sim! Isso! Agora vem pro vovô!”, meu melhor amigo. Nunca se direcionava a mim impondo autoridade, e de cima me olhando. Lembro-me dele se ajoelhando, e da minha altura quase ficando pra comigo conversar e explicar que certas coisas não podiam ser feitas daquela maneira. Minha felicidade e passos inseguros que precediam uma vontade de correr em sua direção, e muito mais perto ficar, era que eu amava ter ele assim, desse tamanho. Eu podia toca-lhe o rosto, sentir sua face, olhar em seus olhos mesmo não podendo dizer nada, eu sabia e tinha certeza que ele me entendia, compreendia cada pensamento meu transparente. Nunca mais gargalhei daquele jeito.

Lembro do seu Jeep, e do vento em meu cabelo. Mesmo só tendo nós dois naquele carro, comigo ele conversava, contava tudo que ninguém mais sabia, somente eu. E por mais impossível que pareça cada palavra dele eu entendia, até a ventania calma pra mim se tornava, pois não tinha nada mais gostoso do que o tom da sua voz, do que o toque da sua mão em minha cabeça.

Coisas aconteceram, eu perdi meu coração em sofrimento, de uma forma que ninguém merecia. Tudo ficou amargo, e com o passar, cresci infelizmente. Desses detalhes não me botarei a escrever, pois o que mais importou pra mim foi o momento de vida. Cada segundo que com ele eu estava. Dói já não tê-lo comigo, pois ele é uma parte de mim que eu perdi, assim... Definitivamente.

Eu o tive do meu lado. Sei que os instantes que estive com ele sempre me trarão a sensação que não foi o suficiente. Mas nem a eternidade seria. Consolei-me, de alguma forma que eu não sei. E tentei esquecer, apagar por desespero, me tornando algo diferente, torta e disforme. Esse erro abandono em meu passado...

Se realmente notou, agora tenho forças até para escrever, e dele contar. Tenho coragem para falar em voz alta para mim, mesmo que lágrimas eu não contenha... É a esperada dor. Sou o que meu avô sonhou que eu fosse... Sou o que ele esperava, e o que ele abraçava em seus braços.

Eu não mudaria nada sobre...

Mim?

Não, sabendo quem me moldou. E o que quero ser... Mais nenhuma única parte dele vou perder.

Dan Bastos
Enviado por Dan Bastos em 07/05/2010
Código do texto: T2241704
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