CARO SENHOR DESTINO
Estão te culpando de muitas coisas, dizem por ai que o responsável disso, daquilo e daquilo outro é você Destino. Eu, muitas vezes diante de tais acusações até te defendi dizendo: “Não, isso não é culpa do destino coisíssima nenhuma, e você que está culpando o Destino só está tirando o teu corpo fora, ou seja, você não assume a sua responsabilidade ou a tua grande parcela de culpa em relação àquilo que está reclamando”. Estou cansado de ver tantas pessoas alienadas dizendo que tudo é culpa ou obra do Destino. Não concordo! O Destino não tem nada a ver com nossas desgraças, nem com as nossas decepções. A sociedade e o meio que a gente vive, sim, estas coisas interferem no nosso destino.
Senhor Destino, nós somos frutos de um processo de formação, somos um conjunto de conceitos e pre-conceitos, e grande parte das pessoas que reclamam não tiveram em sua formação uma quesito importantíssio que é o desenvolvimento de sua capacidade crítica, por isso não aprendeu a fazer análises das besteiras que diz, outros, nem formação tiveram, mas de certo modo, todos somos frutos de um meio social, político, cultural e religioso que fez tudo para nos alijar. Todas estas instituições são as maiores culpadas, incluindo os seus respnsáveis: pais, residentes, governadores, secretários, deputados, senadores, vereadores, prefeitosa, líderes comunitários, sindicalistas, donos de poderosas emissoras como os da Globo plim plim, juízes, promotores, diretores de escolas, professores, padres e pastores. Todos são culpados!
Vê se pode Senhor Destino. O termo “fazer a cabeça”, tão usado nos rituais de de magia negra ou branca , não importa, apesar de um termo horrível usado também para indicar aquele ser humano manipulado perjorativamente denominado de “cavalo” nos tais já mencionados rituais também foi uma prática de outras instituições. A religião com seus dógmas e doutrinas é uma das grandes culpadas de “fazer a cabeça” e transformar o “Cidadão” numa coisa; a família, antes muito rígida e hoje, demasiadamente permissível e flexível por demais também foi formada e constituida nesse bojo de ideias e ideologias apregoadas e assimiladas pelo sistema capitalista voltado para o ganha ganha, o lucro, a luxúria e o luxo, tudo isso vai moldando foi a moldando a cabeça desde “cidadão” desde o berço. Além disso,a ideologia dominante e alienadora age como uma “força estranha” vinda do além para incucar na cabeça das pessoas o que o sistema determina como “verdades”. Por último, escola e a universidade em que nos formamos ou a falta delas, as decisões políticas que sempre ferram a vida dos trabalhadores de baixa renda e de seus filhos, tudo isso junto Senhor Destino tira das pessoas a capacidade de pensar, de formular e criar conceitos , de refletir, de discernir, de poder sozinhos descobrir outras verdades e de relativizar aquilo que convencionalmente fora estabelecido como “verdades absolutas”, mas que não são.
Veja só Senhor Destino, quantas injustiças cometem com o senhor. Sempre tem um babaca cabeça-feita tentando explicar os males do mundo, ora usam o teu nome a sua permissão, ora usando o nome do Divino, e ora usando o nome do diabo, bosebú, coisa ruim, cramunhão, satanás e sem lá mais que diabo de nome se dá a esse cara chato prá dedel. Ah, quase ia me esquecendo: tem ainda aquele babaca que prefere chegar na gente e dizer: “É o seu Carma” o culpado disso tudo. Puxa, é difícil ter ‘carma’ desse jeito com tanto sabe-tudo da nossa vida e do mundo que nos cerca. Nos terreiros eles se vestem de branco, idem na Universal do Reino do Dinheiro, nã Igreja Católica os sabem-tudo se vestem com batinas e outros apetrechos que chamam de sagrado, nas outras denominações eles trajam de terno e gravata e usam a Bíblia para justificar tudo que acontece de bom ou de ruim na vida individual de cada um ou no mundo, mas no fim, todas as pregações têm como pano de fundo as mesmas coisas: libertar, punir, prender, fazer aliança ou pacto, ganhar mais adéptos, converter, purificar, acreditar que nossos antepassados estão em algum lugar em um mundo espiritual e que no fim todos vamos nos encontrarmos num paraiso que para os Testemunhas de Jeová será aqui mesmo na Terra depois de uma suposta purificação com o fogo apocalíptico que há de vir para queimar todos os males deste mundo, idem os maus. Viu Senhor Destino? Todos usam palavras diferentes para depois resumir: é o destino!
O senhor já ouviu falar de um período da História chamado Idade Média? Pois é Senhor Destino, lá já se usava todas esses idiotisses para justificar a miséria da humanidade. Não mudou muito: carma, reencarnação, outra vida pós-mundo físico, pulgatório e até a besteira de que quem praticou o mal terá a chance de repará-lo voltando a viver novamente pela reencarnação, tudo isso já ouví. Até a idiotisse de dizer que tem gente sofrendo por causa de alguma maldição dos seus tataravós já ouvi. Quanta coisa! Coitadinho dos africanos se forem mesmo descendentes de CAM. Tem cabimento os babacas ligados ao clero católicos e até teólogos protestantes tentaram explicar e ao mesmo tempo justificar a miséria dos países africanos por intermédio de trechos da Bíblia, ou seja: todo o sofrimento, abandono e miséria desses povos se explica teologicamente? Absurdo. Por exemplo, há uma passagem na Bíblia que relata o caso da maldição de Noé de um dos filhos de Noé: Can. É com base nisso, que a estúpda Igreja criou até um Mapa-mundi colocando no lugar onde está a África a palavra CAM, para dizer que todos os africanos, eram mesmo, descendentes do filho amaldiçoado de Noé. Isso pode ser comprovado ao analisar um mapa elaborado por de Santo Isidoro de Sevilha datado do século XIII e que faz parte do acervo dos primeiros documentos cartográficos encontrados. Nesse mapa, a África foi associada a Cam, Ásia a Sem e Europa a Jafet.
A Europa, julgando-se a mais abeçoada de todos, achou-se no direito de dominar e expolorar os outros povos, só que usou para isso os termos “civilizar”, “catequizar”, “missão”e assim todos os países europeus como a Inglaterra, Portugal, Espanha, Alemanha e França cairam feito urubus sobre o continente africano. O objetivo? Explorá-lo! A industra emergente precisava ser abastecida com fontes de energias e matérias-primas que não existiam na Europa em grande quantidade. Pois é Senhor Destino, com a mesma justificativa é que o imperialismo veio consolidando o seu domínio sobre os povos subdesenvolvidos, e isso nos inclui. É esse mal tão combatido pelos cubanos que está matando o nosso povo e nossos hemanos circunvizinhos que falam o castelhano. Na visão tológica e nas primeiras cartografias medievais todos os outros povos eram abençoados, mas os africanos não, eles eram povos “malditos”, por isso, podiam ser escravizados pelo homem branco civilizado europeu.Eles diziam: “Negro não tem alma”, a Igreja Católica na época dava a confirmação... “E verdade, nagro é um ser desalmado” e... Ponto final!
O europeu, é claro, acreditou, e em nome de Deus, massacrou, matou, pilhou prendeu e escravizou milhares de povos africanos. Lucraram milhões com isso e fizeram a riqueza das nações desenvolvidas de hoje.
E a América? Ela nem aparece no mapa religioso da época,feito por Isidoro... Descendente que qual filho? Descendente de quem seriamos? A América é fruto de uma invazão dos ditos cujos supostamente abençoados por Deus, os filhos do abençoado Jafet.
Pois é, se Noé só teve três filhos, sendo que um foi amaldiçoado, neste caso Senhor Destino, pode-se dizer que a América não é filha de ninguém? Neste caso, nem maldição nem bênção. Somos neutros!... Legal, não somos descendentes de ninguém, mas ao mesmo tempo, viramos uma colcha de retalhos. Especialmente o Brasil habitado por povos nativos, que foi invadido e estuprado literalmente pelos luso-portugueses, depois vieram os holandeses, os espanhóis, todos sob a mesma justificativa quiseram tirar aqui uma casquinha. Eles diziam a mesma coisa: “Estamos aqui em nome de uma missão religiosa”, dizim-se povos civilizados, abençoados e do bem, realizadores de missões civilizatórias, eram catequistas e catequizadores que vieram trazer a Palavra de Deus para os “pagãos”, a boa-nova. E se os “indios” não aceitassem? Quem não aceitasse, morria. Os mesmos catequizadores e civilizados troxeram para cá os filhos de CAM para fazer deles escravos na América. Os mesmos filhos de SEM escravizaram as almas que vieram catequizar e salvar, fizeram dos negros reféns de um modelo perverso, abominável, vil e cruel para arrecadar grandes somas de riquezas. Drogados os padres faziam os “índios” trabalhar na extração das famosas Drogas do Sertão. Dos negros eram cortados os dedos, quebrados os dentes, eles sofreram toda sorte de castigos imagináveis. Foram obrigados a cultuar os “santos” católicos à força, e disso nasceu o sincretismo religioso Umbanda, Candomblé e a Quimbanda. Sem preconceito, essas seitas são frutos da mistura forçada de raças, tal como a cultura brasileira, somos um misto de povos e esse povo bonito, de lindas morenas e mulatas (termo usado na escravidão derivado do cruzamento do jumento com a égua nasceu a mula). A mula é infértil, não pode ter filhotes, pois é o híbrido do cruzamento entre animais de espécies diferentes: a égua e o jumento. Isso significa que a mula não é nem uma coisa e nem outra. Ela é estéril, não pode produzir óvulos , o burro é o filhote macho que resulta do mesmo cruzamento, também não consegue produzir espermatozóides. Outra explicação é que, tanto o macho quanto a fêmea não têm os orgãos genitais bem desenvolvidos, o que dificulta o acasalamento. Apesar dessas deficiências biológicas, estes animais são bons para executar o trabalho pesado no campo. Isso é só uma pequena explicação Senhor Destino, do significato do termo mulato tão usado para referir-se às belas morenas resultado do cruzamento do branco com negro, claro, essa miscigenação que deu origem a esse povo de cores tão diferentes e bonito foi consequência de uma violência sexual, tal como a nossa cultura tão misturada foi e continua sendo fruto da violência cultural aqui sofrida. Fomos estuprados fisicamente e culturalmente: resultado? Povo brasileiro! Olha que coisa: até Machado de Assis, que nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1839 é descrito como um escritor “mulato”, neto de ex-escravo com mulher branca. “Ele não gostava da palavra ‘mulato’, porque é uma derivação da palavra ‘mula’”, explica Piza. Infelizmente o preconceito do branco contra o negro tem ai suas raízes. Se o cruzamento de branco com negro resultava na mulata, e ao relacionar isso com a ‘mula’ resultante do cruzamento entre a égua e o jumento do qual não haveria prosseguimento na criação, então era inútil e inviável a mistura de raça, conforme escreveu um idiota da época de D. Pedro II para justificar uma idéia absurda de que o povo brasileiro iria desaparecer por volta do ano 2140. Esse cara chamado Conde de Gobineau diplomata francês passou pelo Brasil entre 1869 e 1870, e creio que esse passeio por aqui serviu de base para escrever seus absurdos desprovidos de fundamentos científicos. Seu artigo escrito em 1873 “L’Emigration au Brésil” onde incentivava aos franceses a virem para o Brasil sob essa justificativa de que o povo brasileiro iria se extinguir por causa da mistura do negro, o branco e o índio. Esse fulaninho pensava que como a mula é estéril, a mulata também não poderia produzir bons filhos. Veja ai, de onde vem o racismo no Brasil.
Para concluir, Senhor Destino, não dá para ficar jogando a culpa dos nossos problemas no senhor, nem no tal do “carma” ou no “cão”, tudo é culpa nossa mesmo. Nós fazemos o nosso destino, decidimos que rumo devemos seguir, decidimos se nosso futuro vai ser bom ou ruim, porém, muitas vezes o sistema em que vivemos e o meio onde estamos inseridos, a influência cultural, ideológica, religiosa, as tendências historiográficas, a formação familiar e acadêmica ou a falta delas, a televisão, a escola, enfim, tudo isso por vezes definem o destino das pessoas antes mesmo delas nascerem, e nisso, Senhor Destino, o poder econômico e político são mestres. Quantas crianças já nascem com seu destino traçado? Muitos se enquadram nas estatísticas da fome e da violência antes de virem à luz. Como se vê, não é culpa do senhor destino que muitas pessoas estão sofrendo. Quantas mulheres e homens infelizes, frustrados por acreditarem que casamento é sinônimo de amor? Não é! Quantas mulheres tiveram seus destinos matrimoniais decididos por força dos conceitos pré-estabelecidos? Quantas pessoas poderiam ser realmente felizes sem estas convenções idiotas? Pois é, tanta gente infeliz, buscando até hoje a felicidade na religião, nas doutrinas e conceitos, pessoas moldadas, cabeças-feitas e que não decidem por si mesmas, deixam outros definirem o que devem ser, acreditar ou seguir. Vidas destruídas, sentimentalmente aniquiladas. É por isso que já ouvi a afirmação de que “Só os amantes amam de verdade”. Tudo que é imposto de certa forma nos maltrata e prejudica. E o que não é imposto nesta sociedade?
Senhor Destino, eu gostaria de poder defendê-lo mais nessa carta, mas não tenho mais palavras, só sei dizer que...
Definitivamente o senhor não é culpado!