Sobre poemas e contratos
Talvez não seja a forma ideal de dividir o coração, mas lembrei-me de “Coração de Dragão”, em que para dar vida a um amigo extenuado de existência, o dragão abre suas escamas e divide seu coração dando nova vida a quem jazia na guerra do mundo.
Mas afinal, que forma ideal é essa que tanto nos cobra sem ao menos provar que existe?
Fazemos contratos durante toda a vida, alguns escritos, outros verbais, outros nascidos de nossos próprios corações, e ainda outros com suas letras miúdas que nos esquecemos de ler.
Poemas são desaforados, vem em letras garrafais, gritados da alma, ou tão fortes quanto, encolhidos numa forma humildadezinha.
Meus contratos se misturaram aos meus poemas durante um vendaval, e embora separa-los me pareça uma missão impossível, tenho tentado ainda que desesperançoso. Confesso que mudaria alguns verbos que usei de forma displicente em meu passado, que usaria lupa ao reler os contratos que assinei com minha história de forma desatenta.
Essas coisas não são possíveis. Posso fazê-lo em meu presente e em meu futuro, mas temo a complexidade disto tudo. A fonte que me alimenta agora me devora. Contratos e poemas não podem ser engavetados de forma irresponsável, como se algum dia seu prazo de validade pudesse ser extirpado de nossa alma.
Com o tempo convivemos melhor com nossa dor.
Bastará?
Espero que haja um significado para nossa vida, usarei indiscriminadamente a experiência e o carinho que me puderes doar. Mesmo que apenas me possa doar sua ausência, afinal, também possui seus poemas e contratos, e imagino que também ande a revisá-los.
Por hora, sinto uma brisa de esperança soprar meus cabelos. Taciturno sob o óculos, espero meio abobado, meio anestesiado e cético.
Em que gaveta guardarei essas palavras?