Por que isso, senhor AG?

Prezado senhor,

Não entendi a sua agressividade, quando se dispôs a responder ou a comentar a minha carta, intitulada “consulta aos leitores”, na qual agradeci a deferência de pessoas que se dignaram em ler os meus escritos – crônicas, contos e capítulos de livros postados nas prestigiosas páginas de o Recanto das Letras.

Como novo assinante, portanto, de frágil conhecimento sobre o sistema que passei a integrar, julguei ter a obrigação de publicar diariamente alguma coisa de minha lavra, como fizera desde 19 de outubro último.

Na ocasião, desculpei-me por não publicá-los nos últimos dias, por encontrar-me em viagem a Fortaleza, afastado de São Paulo, onde estou radicado para tratamento quimioterápico do meu netinho, Raphael.

Ao ensejo de me dirigir ao grande público do Recanto das Letras, pedi as orações dos que, como eu, confiam no poder de Deus, o Supremo médico capaz de curar o meu netinho. Disse, na oportunidade, confiar ao Todo Poderoso a vida do Raphael, a quem amo com todas as veras do meu coração.

Naquela ocasião, perguntei aos leitores se seria oportuno publicar capítulos de outro romance, “O Ultimato”, pois temia não ser acessado por bom número de pessoas, como ocorrera aos episódios de “O Único”.

O motivo seria o de não ocupar preciosos minutos dos leitores com a desimportância de minhas narrativas. Também, seria a oportunidade de publicar diariamente algum escrito, por singelo que fosse. Assim, cumpriria o meu dever.

Essa a razão.

Nove leitores tiveram acesso à despretensiosa “consulta”; um deles, foi Vossa Senhoria. Agressivo, perguntou-me se o importante para mim seria a quantidade de leitores, e se os poucos que me lêem não seriam importantes. Indagou-me mais: “Qual a sua (minha) preocupação, afinal?” E, de forma cruel – sim, cruel –, disse-me que o “importante, em sua opinião, é ele" (o Raphael), como se eu pensasse diferentemente.

Saiba, senhor AG, que para mim nada é mais valioso. O senhor não me conhece; não imagina o meu sofrimento e os ingentes esforços empreendidos para levar a bom termo a saúde do meu netinho. Sou um pai amoroso e dedicado. Um avô que se dedica aos netos com extremado amor. Um varão que a tudo renunciou para dar ao Raphael o melhor tratamento médico disponível no Brasil.

Eu não merecia sequer a dúvida que se apossou de seu coração, para insinuar, em mim, o mínimo desinteresse com a saúde do neto querido. Minha visita a Fortaleza foi circunstancial. Adianto-lhe, ainda, que também não pretendo ser lido em profusão nem sinto menosprezo pelos poucos leitores que me honram com sua atenção, como me perguntou o senhor, em seu comentário.

Sou-lhe grato pelas “preces, rezas e orações” que disse ser o Raphael merecedor. Eu também acho que ele as merece. É uma criança linda e inocente, filho e neto de pessoas que o amam muito. Não seria necessário o senhor dizer que “acreditava” ser ele merecedor das graças de Deus.

Tenha a certeza!

Ninguém, mais do que nós, seus familiares, pensa assim.

Desculpe-me o desabafo e certo grau de indignação provocados por seus comentários. Eu precisava dizer isso ao senhor. E também aos oito mais que leram a minha “consulta”, retirada do ar por temer ser mal interpretada como o foi por Vossa Senhoria, um homem de muitas letras, conforme se depreende de seu perfil no Recanto das Letras. Felizmente, aquelas oito pessoas não foram alcançadas, como o senhor, pela pressa de demonstrar sua eloquência em um dia tão infeliz para mim.

Publico esta carta sem identificar o destinatário. Apenas AG, para servir de mera referência. Tomo a iniciativa, por temer que outras pessoas de nosso meio tenham tido acesso aos seus comentários. Foi preciso corrigi-los, para lavar a mágoa de um velho avô, de um escrevinhador sem pretensões e de um leitor respeitoso.

De agora em diante, serei seu assíduo leitor.

Talvez aprenda muito consigo.

Atenciosamente,

LAMÉRCIO MACIEL BRAGA