MENINOS E MENINAS

A TODOS OS QUE SE SENSIBILIZAM COM O DRAMA DA EDUCAÇÃO

Há muito me inquieta como pensador do meu país e, sobretudo, como educador que sou, o futuro dessa nação. A minha escrita tem muito de poesia. A minha prosa se insinua sempre, de uma forma ou de outra, com o texto poético. Entretanto, tentarei ao máximo me afastar desse estilo, por agora. Perdoem-me se, em algum momento, as minhas mãos me traírem e a força da poesia tentar se intrometer.

Comecemos mais uma vez. Há muito me incomoda o pouco caso ou o descaso do governo em relação aos assuntos educacionais. Não só. Há muito me aborrece e, porque não, me enraivece ver tantas gerações perdidas, alienadas, sem qualquer perspectiva de futuro. Nada farão de significativo pelo Brasil. Nada serão. Positivamente, nada.

Todas as políticas educacionais até agora não atingiram o verdadeiro propósito: transformar o cidadão. Torná-lo crítico o suficiente para enxergar o perverso jogo político-econômico que está ao nosso redor. Há iniciativas louváveis de ONGS, igrejas, projetos comunitários, contudo, o que se vê são heróis do dia-a-dia, pessoas que se esforçam e lutam contra inúmeros fatores contrários: miséria, fome, violência, entre outras coisas. São ilhas.

O país não se construirá com ilhas. O país não é uma ilha!

O que me inquieta é perceber que mais uma geração de jovens ruma em direção ao nada. São analfabetos funcionais. Não leem. Não querem ler. E a sociedade cruza os braços. Que não leiam então! Que seja o que são: nada, vazio, coisa alguma. Quando nos detivermos sobre o assunto será tarde.

Passam pela minha vida muitos rostos: meninos e meninas que sonham. Meninos e meninas que esperam algo ou esperavam alguma coisa. Meninos e meninas que se encantam com as coisas. Ainda. Mas muitos já não se encantam. Muitos têm o olhar cortado e quase morto, devido ao caos da segurança pública. Outros ainda têm o olhar frouxo, o olhar fraco e a barriga murcha do pouco pão ou pão nenhum.

Meninos e meninas cooptados pelo tráfico. Meninos e meninas cooptados pela prostituição. E é o corre-corre da polícia. E é o crack e é a cocaína. E é a gravidez na adolescência. E são os adolescentes malfeitores. E são raivosos meninos e meninas que batem nas janelas dos carros exigindo algum dinheiro. E são meninos e meninas se drogando nas ruas. Desvairados, matam e se matam. Mas são apenas meninos e meninas!

Talvez, um dia, foram meninos e meninas.

É preciso rever muita coisa. O tempo cobra um preço alto. O tempo cobra. Do que adianta computadores na escola se não há carteira para os alunos? Do que adianta listagem e controle de presença na Internet se não há acompanhamento psicológico ou orientação pedagógica? Do que adianta cobrar atitude dos profissionais da educação se o governo os trata como se fossem dispensáveis. O que não são.

Pagar melhores salários aos profissionais da educação. Estabelecer o ensino integral nas escolas. Dar suporte técnico e estrutura física e financeira aos estabelecimentos de ensino para que possam investir melhor em projetos e currículo. Criar mecanismos que facilitem e agilizem ações positivas e empreendedoras. Estabelecer objetivos claros e precisos. Em suma, administrar a educação com seriedade e não fanfarronice tecnológica.

Enquanto estivermos discutindo o assunto e não pormos em prática o que deve ser feito nada mudará. Gritos, passeatas, bandeiras, nada resolverá. Meninos e meninas continuarão deixando de ser meninos e meninas. Tornando-se, cada vez mais cedo, nada, vazio, coisa alguma.