A CASACA

Política era uma palavra próxima. Respirável até certo ponto. Dialogável. Defrontei-me com ela pela primeira vez com a revolução francesa e os acenos entusiasmados de Diderot e os milhares de camponeses de mãos erguidas. Depois foram a Inconfidência Mineira, os ares de Vila Rica, os poemas de Tomás Antônio Gonzaga, os pastos sinceros em que esperava Marília.

Era uma palavra um tanto gasta, mas aprazível. Tantos sonhos ingênuos de liberdade e de revoluções esta palavra despertou. E tudo podia. E tudo queria. E como se sonha e como se quer quando se é jovem!

Os russos e os czares. Pobre Dostoievski.

Minha juventude e algumas ações, alguns poemas, algumas palavras. A poesia ensinou-me a rever, a pensar.

E todo o pensamento convergiu num ponto apenas: política, uma palavra opaca. Tomei nojo, um sincero nojo desta palavra e de suas derivações. Lutas, revoltas, confrontos e desafios. Nada cerca o espírito humano de tamanha destruição como a luta pelo poder

Não é pessimismo de que falo. Não. É de política.

Os bons ventos dos ideais de liberdade e fraternidade ruíram quando postos ao lado do poder. Não interessam as convenções: direita, esquerda, centro. Num mundo tão fragmentado como o de agora, verdadeiramente, não interessa. O que importa é que se fala aqui de política e de outra palavra, quase irmã: poder.

Pobres cubanos, os gritos do guerreiro de boina preta se dissiparam no ar, são apenas lembranças. O mito sobrevive, arrasta-se no tempo inglório dos pedaços e colagens. Pobres judeus e alemães que construíram e constroem ainda muitos Hitleres.

Nestes países – Cuba e Alemanha – o que marcaram foram apenas ditaduras. Ditadura de esquerda. Ditadura de direita. Não ande, não cante, não fale! Siga em frente e nem pense em desviar o olhar!

Não posso dividir, de forma tão simplista, ou purista, como gostam alguns, os ideais em esquerda e direita. Não é assim. Embora muitos ainda acreditam nesse absurdo! Uma comédia ou um drama! Imaginava caminhos. Hoje sei que são rótulos...

Quando penso, hoje, na palavra política, sinto-a apenas como uma palavra palpável. Uma palavra palpável. Uma palavra real na pele descamada dos miseráveis que nem sabem o que é direita ou esquerda; nos corpos ossudos dos que não comem e porque não comem não estudam e porque não estudam não leem e porque não leem nunca saberão da revolução francesa ou dos versos de Tomás Antônio Gonzaga.

O maquinário político assemelha-se a uma casaca, velha, surrada, empoeirada, mas, desejada por muitos.

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 16/10/2009
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