CARTA À MINHA IRMÃ MARGARIDA DA MOTTA ROCHA - CAMPINA GRANDE-PB
Natal,RN, 30 de setembro de 2009
Minha querida irmã Guida:
Falar de você é fácil como tirar doce de criança!
Digo isso; e minhas sobradas razões, estão evidenciadas na sua vida pública e privada. Na vida pública, vejo a mulher competente em todas as suas atribuições; vejo o respeito e o carinho que Campina Grande inteira e grande parte da Paraiba tem por você; vejo “n” pessoas espelhando-se nos seus exemplos e lições de vida; enfim, quero que você saiba do orgulho que sinto em ser seu irmão. Falando de você como minha irmã mais “vivida”, tem uma coisa entre nós, que você talvez nem saiba que tenho consciência disso. Quando papai “viajou”, eu já era escravo do álcool. Certa feita, você me chamou no alpendre de sua casa e me entregou “AS DOZE PERGUNTAS DOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS”. E eu soltei os cachorros em cima de você, sem se quer imaginar que você estava plantando em mim, a semente da SOBRIEDADE... Isso foi em 1980, um ano antes de papai passar para “o outro lado da vida”. Só mais tarde, minha irmã, bem depois de ter ingressado em ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, me dei conta que você estava com a razão. E mais, me dei conta que você, ao me entregar aquelas “12 perguntas do AA”; sabia que meu problema era DOENÇA; ao contrário de TODOS nossos demais familiares; dos quais, muitos, até hoje têm plena certeza que minha trajetória alcoólica era SAFADEZA. Pior ainda, alguns sentem vergonha de mim, quando deveriam me ter como exemplo de força de vontade e de superação. Quando entrei em Alcoólicos Anônimos, só duas pessoas acreditaram que eu queria me recuperar; você e meu saudoso sogro e colega, o poeta Arlindo Castor de Lima. Entrei no AA às 19:00 Hs. do dia 12 de dezembro de 1992, SÁBADO DE CARNATAL, e de lá prá cá, não ingeri mais “a marvada”! Hoje faz exatamente 16 anos, 9 meses e 18 dias que estou sóbrio e sem nenhuma recaída... De vinte e quatro em vinte e quatro horas, “evitando o 1º. gole e no passo do ganso ô da tartaruga, como você queira”, terminei meu segundo livro, MUNGANGAS, PRESEPADAS E OUTROS BICHOS. Depois dêle, vieram mais sete publicações; afora três CD’S e mais de uma centena e meia de folhetos de Literatura de Cordel (atualmente escrevo no mínimo um folheto por semana). Hoje sou da Academia de Trovas do RN; da União Brasileira de Trovadores-UBT-RN; do Instituto Histórico e Geográfico do RN; da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN; da Comissão Norte-Riograndense de Folclore; da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP; e do Instituto Histórico e Geográfico do Cariry-PB. No Projeto Por do Sol do Potengí, no Iate Clube de Natal, declamo meus poemas matutos toda terça, quarta e quinta feira. Um dos meus poemas matutos, O BOLO DA FELICIDADE, está inserido no livro de Português do 8º ano, da Profa. Fernanda Baccaro, da Editora Poliedro-SP, que foi lançado recentemente na capital paulista; e que já está sendo utilizado em sala de aula. Foi isso, Guida, que eu ganhei em troca do “não beber”! Essa minha SOBRIEDADE de 17 anos também lhe pertence. A você, à minha mulher e aos meus filhos; e aos “meus irmãos em AA, que jamais me abandonaram”... É apenas e tão somente isso, minha irmã, que tenho para lhe dar como “presente imaterial”, no dia dos seus oitenta anos. A simplicidade dessa homenagem que lhe presto publicamente, é diretamente proporcional ao teor do carinho, do amor e da gratidão com os quais o estou fazendo. E fique na certeza de que é do lugar mais profundo de minha alma e do meu coração, “todo remendado e intupigaitado de amor; diga-se de passagem”... Feliz aniversário!
Beijos do seu irmão,
Bob