Relato sobre...

Boa Noite,

Como posso dizer a vós algo sobre esta que não conheço e conheço tão bem? É simples, eu não posso.

Quando nossas mãos se enlaçaram sem se tocar, e nossos amores se mesclaram à metáforas, eu simplesmente fazia-me Forma Primária; Meus olhos de céu faziam-se fogo e trevas, e a fúria que habita meu peito agitava-se e ardia-me, como se fosse me possuir, e eu insistentemente me controlava para não sucumbir. ela me torturava com sua existência frágil e intangível.

Me contaram ao entardecer que do outro lado deste horizonte que beijo sujo com os olhos lassos, cantavam meu nome em silêncio. Um relato sobre um autor-viajante, que de menino virara Rei e Nada. E então, me senti no dever de relatar para aqueles que vivem em meu reino, neste reino antropomórfico de idéias e Naturezas, quem é aquela autora-viajante, das terras dos horizontes-concretos, que decidiu se aventurar nas veredas sem fronteiras.

Uma vez à beber de meus olhos as lágrimas, me disse: "Meu corpo se aflora em fogo e se transforma na sombra de uma besta ignóbil e sagrada. A forma é a outra (não) metade de mim". E eu boquiaberto apenas consegui a abraçar e me reunir em sua tormenta, então, mesclados, Ela me repetiu: "Eu só sou uma parte de mim, as outras ou eu amo, ou desconheço".

Então, minha voz calou-se.

E ela foi se desfazendo (ou seria eu?) e logo me vi solto, nas sombras de mim mesmo, em forma de lobo, e seu cheiro se desfez em cores, e suas sombras explodiram em sons, e seu gosto se fez palpável e então, como num relâmpago, dispersou-se, arrastando-me em ventanias loucas e fogos mornos e azuis que mais deliravam e doíam do que queimavam, e quando o chão finalmente desapareceu, eu vi sua forma, meta-forma, deitada ao chão do próprio abismo, e ainda que no fundo de si, estava à minha superfície, acima de mim, estirada, pálida, Ultra-marina.

Tentei tocar suas costas e apoiá-la sobre meu corpo, ao enconstá-la, o Abismo era Eu. E assim se fez nossa trama, embebedados em cores-dores-múltiplas, juntos e afastados, sendo partidos e repartidos, e logo, nos separando cada vez mais. O não dito estava sendo dito, e minha sina mortuária estava se principiando, ia estático e extático entrar pelas portas deste Castelo...

Eu sei, ela vive. E eu aos poucos também me desperto, sonolento, pairando no ar como uma pluma... Agora que as palavras me fogem e engasgam-me em pranto inaudito... Ir-me-ei.

Mas não sem antes um afago,

Ah, minha querida... Traga-me o horizonte, que te trago a madrugada.

Atenciosamente,

Ralph Wüf

Ralph Wüf
Enviado por Ralph Wüf em 22/09/2009
Reeditado em 22/09/2009
Código do texto: T1825432
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